“Lobisomem” vacila na tensão, mas faz boa metáfora sobre doenças degenerativas

Por Reinaldo Glioche

É no mínimo interessante que a Universal lance duas novas versões de seus monstros clássicos, ambas com forte dicção autoral, em um curto espaço de tempo. “Nosferatu”, de Robert Eggers, e esse “Lobisomem”, de Leigh Whannel, se assemelham, ainda, pelo fato de enxergarem no terror um valioso condutor para o drama.

Whannel foi muitíssimo bem sucedido nessa construção no ótimo “O Homem Invisível” (2020), em que teceu um comentário vultoso sobre relações abusivas, aqui ele estabelece uma metáfora a respeito de como doenças – em especial degenerativas – nos deformam e afastam daqueles que amamos. O próprio cineasta falou a respeito em uma entrevista ao UOL.

“Lobisomem”, porém, não ostenta o mesmo refinamento narrativo do longa anterior do cineasta. Os bons atores escalados para viver os protagonistas (Christopher Abbott e Julia Garner) não parecem plenamente engajados com o material e há lapsos de qualidade na interpretação que acabam por suspender a crença da audiência naquelas circunstâncias.

Outra questão dissonante é a própria abordagem proposta pelo roteiro, escrito por Whannel em parceria com Corbett Tuck. A tensão objetivada se mostra vacilante e há momentos de desajuste na misé-èn-scene.

O processo de transformação do personagem de Abbott com alguma frequência se mostra tedioso e o público sabe exatamente onde tudo aquilo que se vê vai dar. Isso não configuraria um problema se o filme se desincumbisse da seriedade e pretensão que o viabilizam. São questões que fazem de “Lobisomem”, por mais bem intencionado que seja, um filme menor ante as produções aqui citadas. A grandiloquência de Nosferatu, aliada a sua estética robusta, guiam um filme altivo em suas manipulações, enquanto que “O Homem Invisível” não apresenta as arestas e interdições que aqui se verificam.

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