Com Cate Blanchett, “Rumours” navega entre a sátira política e o absurdo

Redação Culturize-se

“Rumours”, o mais recente filme de Guy Maddin, dirigido em parceria com Evan e Galen Johnson, é uma ousada mistura de comédia política, horror folk e surrealismo. Lançado no Festival de Cannes, o longa convida o público para um mergulho nas profundezas do absurdo, ao acompanhar uma fictícia reunião do G7 em um castelo alemão cercado por mistérios e fenômenos bizarros. Com toques de farsa e ironia, o filme reflete o caos e a incompetência das lideranças globais diante de crises reais e imaginárias.

A narrativa se desenvolve em torno de sete líderes mundiais que tentam redigir uma declaração sobre uma crise internacional indefinida, mas encontram-se presos em um cenário cada vez mais surreal. O abandono do castelo, o surgimento de “corpos de pântano” e a aparição de um cérebro gigante na floresta são apenas alguns dos elementos que desafiam a lógica e as habilidades desses líderes. Enquanto a trama expõe o dilema da liderança global, ela também destaca o absurdo de sua fixação em protocolos e futilidades enquanto o mundo desmorona.

No centro da narrativa está Cate Blanchett, em uma performance aclamada como Hilda Ortmann, a chanceler alemã carismática e calculista, que lidera os esforços para manter o grupo unido. Ela é acompanhada por um elenco de peso, incluindo Charles Dance, Alicia Vikander e Denis Ménochet, cujas interpretações carregam a sátira política com camadas de humor ácido e caracterizações deliberadamente exageradas. Destaque também para Roy Dupuis como Maxime Laplace, o primeiro-ministro canadense que assume o protagonismo em momentos cruciais, em um gesto que reflete a lealdade de Maddin à sua terra natal.

Visualmente, o filme é um espetáculo. Fiel ao estilo característico de Maddin, “Rumours” combina elementos noir, imagens oníricas e metáforas visuais provocativas que amplificam a sensação de absurdo. A névoa que circunda o castelo, por exemplo, é tanto literal quanto simbólica, representando o estado nebuloso das discussões políticas. A trilha sonora melodramática e o design de produção cuidadosamente elaborado reforçam a atmosfera surreal e a desconexão dos personagens com a realidade.

Embora “Rumours” seja inegavelmente engenhoso e repleto de momentos cômicos, alguns críticos observaram que o filme carece da profundidade emocional e da paixão criativa presentes em outras obras de Maddin. A sátira política é eficaz e o humor é certeiro, mas a abordagem parece, por vezes, conter-se diante da complexidade dos temas abordados. Ainda assim, a união dos talentos de Maddin e sua equipe garantiu uma experiência cinematográfica única, que ecoa influências de Armando Iannucci e David Lynch.

“Rumours” é um comentário mordaz sobre a futilidade da política moderna e o fracasso de líderes globais em enfrentar crises reais. Suas metáforas absurdas e seu humor afiado convidam o público a refletir sobre o estado do mundo, ao mesmo tempo em que celebram o amor de Maddin pelo cinema.

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