Jornalismo digital consagra a figura do newsinfluencer, mas há riscos

Redação Culturize-se

A jornalista Julia Duailibi | Foto: Reprodução/Globonews

Nos últimos anos, a convergência entre tecnologia, cultura digital e jornalismo tem reformulado profundamente o consumo e a produção de notícias. No centro dessa transformação, surgem figuras como Hasan Piker, newsfluencer que utiliza plataformas como Twitch para comentar eventos globais de maneira interativa e dinâmica. Ao mesmo tempo, jornalistas tradicionais, como os da GloboNews, adotam práticas de influenciadores digitais, expandindo sua atuação para as redes sociais e construindo novas formas de engajamento com o público. Esses fenômenos representam mudanças estruturais que transcendem o formato do telejornalismo tradicional e questionam os limites entre informação e entretenimento.

A transformação do jornalista em influenciador

A chamada “quinta fase do telejornalismo” exemplifica como jornalistas estão rompendo com suas rotinas tradicionais para abraçar uma presença mais ativa nas redes sociais. Ao interagir diretamente com o público, compartilhar bastidores e produzir análises em formatos digitais, esses profissionais tornam-se protagonistas de um novo modelo midiático. Esses jornalistas atuam como influenciadores, combinando informação e performance para atrair a atenção de audiências fragmentadas.

Plataformas como Instagram, Twitter e YouTube permitem aos jornalistas expandir sua credibilidade para além do conteúdo televisivo, enquanto criam uma conexão mais próxima com os espectadores. No Brasil, figuras como Júlia Duailibi e Octavio Guedes, da GloboNews, exemplificam essa tendência ao compartilhar conteúdos que vão de análises aprofundadas a momentos descontraídos, humanizando sua imagem perante o público.

A integração de estratégias típicas de influenciadores, como narrativas diretas e uso de linguagem acessível, também reflete uma tentativa de engajar audiências mais jovens, menos propensas a consumir notícias pelos meios tradicionais. Essa prática não apenas aumenta o alcance dos conteúdos jornalísticos, mas também fortalece a credibilidade dos profissionais, agora vistos como acessíveis e autênticos.

Se, por um lado, jornalistas tradicionais têm abraçado características de influenciadores, por outro, os chamados newsfluencers têm expandido ainda mais os limites do que significa produzir e consumir notícias. Diferentemente dos jornalistas de emissoras como a GloboNews, esses criadores são independentes e operam majoritariamente em plataformas digitais como TikTok, YouTube e Substack. Além de apresentarem notícias, eles frequentemente combinam humor, opiniões pessoais e aspectos de sua vida privada para cativar seus seguidores.

Esse modelo de atuação, representado por figuras como Hasan Piker, desafia as normas jornalísticas convencionais ao misturar informação com entretenimento. Embora essa abordagem torne as notícias mais acessíveis e atrativas para um público mais jovem, ela também levanta questões sobre imparcialidade, rigor informativo e sustentabilidade financeira. A dependência de algoritmos, modelos de assinatura e engajamento constante, por exemplo, cria uma pressão que pode comprometer a profundidade das análises e até mesmo levar ao esgotamento dos criadores. Além disso, a relação parasocial, em que os espectadores percebem os newsfluencers como amigos íntimos, intensifica a lealdade, mas também amplifica a polarização e o sensacionalismo. Ainda assim, casos como o do YouTuber brasileiro Felipe Neto, que mobilizou seus seguidores para ações cívicas, mostram que esses criadores podem desempenhar papéis significativos na sociedade.

Desafios e oportunidades

A convergência entre jornalismo e cultura digital traz consigo uma série de desafios e oportunidades. Por um lado, a autenticidade e a acessibilidade desses novos formatos democratizam o consumo de notícias, aproximando os públicos mais jovens de temas relevantes. Por outro, a fusão entre jornalismo e entretenimento coloca em xeque valores essenciais da prática jornalística, como objetividade e ética.

Emissoras tradicionais, como a GloboNews, têm encontrado um meio-termo ao adotar práticas de influenciadores sem abrir mão de sua credibilidade consolidada. Já os newsfluencers representam um modelo mais disruptivo, que quebra as fronteiras entre profissionalismo e paixão. Em ambos os casos, o envolvimento direto com os espectadores redefine o papel do jornalista, tornando-o não apenas um informante, mas também um mediador, um performer e, muitas vezes, um ativista.

O futuro do jornalismo, portanto, parece estar atrelado à capacidade de equilibrar inovação e responsabilidade, explorando novos formatos sem comprometer a integridade da informação. Seja nas telas da televisão ou nos feeds das redes sociais, o objetivo final permanece o mesmo: informar, engajar e inspirar, em um mundo cada vez mais interconectado.

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