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Sociólogo Michel Maffesoli observa o crescente interesse pelo imponderável na atualidade

Redação Culturize-se

O sociólogo francês Michel Maffesoli é uma figura central no estudo das transformações sociais que marcam a contemporaneidade. Por meio de conceitos como neotribalismo e razão sensível, ele examina a transição das narrativas universais da modernidade para uma organização social mais fluida, emocional e conectada com o imaginário coletivo. Em sua vasta produção intelectual, Maffesoli não apenas descreve as dinâmicas emergentes, mas também oferece ferramentas para compreender como as pessoas buscam significado e pertencimento em um mundo fragmentado.

A nostalgia do sagrado

Pós-modernidade e neotribalismo

Para Maffesoli, a pós-modernidade é caracterizada pela fragmentação das grandes narrativas modernistas, como a ciência e o progresso, e pelo surgimento de microgrupos que ele denomina “tribos”. Essas tribos urbanas, ou neotribos, são formadas por indivíduos unidos por afinidades emocionais, estéticas ou culturais. Exemplos disso podem ser observados em comunidades digitais, movimentos culturais e até em grupos de fãs.

Em seu livro seminal, “O Tempo das Tribos” (1988), ele argumenta que essas formas de organização social são marcadas pela efemeridade e pela fluidez, contrapondo-se à rigidez das instituições modernas. Para ele, o tribalismo contemporâneo valoriza mais o compartilhamento de sentimentos e experiências do que a adesão a estruturas hierárquicas ou normas fixas.

Razão sensível e imaginário social

Outro conceito central no pensamento de Maffesoli é a “razão sensível”. Contrapondo-se à razão instrumental da modernidade, ele enfatiza a importância da emoção, da intuição e da experiência sensorial na construção do conhecimento e das interações sociais. Em “A Contemplação do Mundo” (1993), ele explora como o imaginário – composto por símbolos, narrativas e mitos – é fundamental para moldar as culturas e sustentar as conexões humanas.

Essa abordagem é visível em sua análise da busca por significado no contexto contemporâneo. Em “A Nostalgia do Sagrado”, recentemente traduzido pela PUCPRESS, Maffesoli discute como a busca pelo transcendente não está limitada às religiões tradicionais, mas se manifesta em práticas cotidianas como a arte, a música e as celebrações coletivas. Ele sugere que a era tecnológica, apesar de aparentemente dominada pela racionalidade, fomenta um desejo crescente pelo incerto e pelo imponderável.

A nostalgia do sagrado e o reencantamento

Michel Maffesoli | Fotos: Divulgação

Em sua mais recente obra, Maffesoli argumenta que o reencantamento do mundo está intimamente ligado à nostalgia do sagrado. Para ele, a secularização não significou o fim da espiritualidade, mas sua transformação em novas formas de expressão cultural e social. Ele observa, por exemplo, como as redes sociais podem ser vistas como uma “comunhão dos santos” na pós-modernidade, criando espaços para conexão e troca simbólica.

Ao descrever a cultura brasileira no prefácio da edição nacional, Maffesoli destaca a força das relações interpessoais e do cotidiano como elementos centrais do reencantamento. Essa perspectiva, segundo ele, é essencial para compreender as novas formas de religiosidade e pertencimento que emergem em sociedades globalizadas.

Legado e relevância

Com obras como “O Reencantamento do Mundo” (2007) e “No Fundo das Aparências” (1990), Michel Maffesoli oferece uma visão inovadora e necessária para compreender os desafios da era pós-moderna. Sua análise das complexidades de um mundo em constante mutação, fornecendo insights valiosos sobre como os indivíduos e comunidades buscam sentido e pertencimento em tempos de incerteza.

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