Redação Culturize-se
Adriano Imperador, a lenda do futebol brasileiro que despontou como uma promessa e enfrentou turbulências inesperadas, compartilha sua história em “Adriano: meu medo maior“, lançado pela Editora Planeta. O livro, escrito com o jornalista Ulisses Neto, traz as memórias do ex-jogador em primeira pessoa, revelando os altos e baixos de sua carreira e as lutas pessoais por trás da fama. Para muitos, Adriano personificou o sonho de ascensão no futebol, saindo da Vila Cruzeiro, uma das comunidades mais desafiadoras do Rio de Janeiro, para conquistar a Europa. Porém, o preço desse sucesso deixou marcas profundas, que o ex-jogador relata com uma honestidade desconcertante.
Nos primeiros capítulos, Adriano descreve a ascensão meteórica: de jovem promissor nas categorias de base do Flamengo até a Seleção Brasileira aos 18 anos, quando sua habilidade impressionante chamou a atenção da Inter de Milão. Foi lá que ganhou o apelido de “Imperador”, um título que, segundo ele, até hoje não compreende totalmente. “Imagina isso. Um cara que saiu lá da favela para ganhar o apelido de Imperador na Europa. Quem explica?”, comenta no livro. Porém, enquanto encantava os torcedores, Adriano enfrentava dilemas internos que poucos conheciam. “Bebo quase todos os dias. Por que uma pessoa como eu chega a esse ponto? Não é fácil ser uma promessa em dívida”, desabafa, admitindo as pressões de corresponder às expectativas.
Os desafios não eram apenas internos. Em meio à fama, Adriano perdeu o pai, Mirinho, uma perda que ele define como um dos golpes mais duros de sua vida. “Tudo parecia estar em câmera lenta em volta de mim. Não entendia as palavras da minha mãe: ‘Meu filho, seu pai se foi.’” A dor devastadora acabou abalando sua determinação no futebol e o distanciou do que antes o motivava. Sua volta ao Brasil, mesmo com contratos de alto valor, tornou-se uma maneira de se reconectar com suas raízes e amigos. Ele se destacou no Flamengo, onde foi idolatrado, mas a luta interna continuava.
Em um dos episódios mais impactantes do livro, Adriano revela como a diretoria da Inter de Milão chegou a sugerir internação em uma clínica de reabilitação na Suíça, preocupada com o impacto das dificuldades emocionais em seu desempenho. “Queriam me internar. ‘Eu não sou maluco, presidente. Com todo o respeito. Por que vocês estão querendo me mandar para um manicômio?’” relata. Para ele, a sugestão parecia incompreensível, evidenciando seu isolamento e o quanto estava distante de uma solução que o ajudasse de fato.
Ainda assim, as lembranças que ele guarda não são apenas de dor. Adriano descreve com carinho os momentos em família e os amigos da Vila Cruzeiro, onde se sente em casa. Ele também rememora histórias divertidas, como a vez em que Ronaldo Fenômeno o deixou em apuros ao desistir de ir a uma festa organizada em sua homenagem na comunidade. “Tive que beber todas as latinhas de energético da festa para não desagradar o anfitrião”, brinca.
No livro, Adriano se aproxima do público com autenticidade, compartilhando seus momentos de glória e seus medos mais profundos, sem se esquivar das dificuldades. Ao recordar quando a torcida da Inter o acolheu após a morte do pai, exibindo a faixa “Na alegria e na tristeza, Adriano nosso Imperador”, ele admite que chorou no campo. Mais do que um ícone do futebol, “Adriano: meu medo maior” revela o lado humano do ex-jogador, uma história que vai além dos gramados, resgatando o que há de mais humano no Imperador.