Reinaldo Glioche
O vídeo-ensaio “Paisagens do Fim“, adaptado do site-livro homônimo de Carlos Alberto Mattos, lançado em 2021, explora a relação entre cinema e paisagens de ruínas. O estudo busca responder questões como: de que maneira as “ruínas do presente” são capturadas pelas câmeras? Como os personagens interagem com esses cenários de devastação? Quais relações simbólicas surgem dos vestígios dos desastres, e até onde o cinema pode ir ao fabular sobre esses ambientes?
No vídeo, Mattos aborda o fascínio que as paisagens de destruição exercem nas artes, desde a pintura renascentista até o “ruin porn”, gênero atual explorado em fotografias e até em telas de descanso de computador. No cinema, esse interesse começou com os irmãos Lumière, que, em um de seus primeiros filmes, filmaram a demolição de uma parede. “Paisagens do Fim”, que pode ser conferido abaixo, exibe cenas de 46 filmes que utilizam locações devastadas por guerras, desastres naturais e outras destruições, indo de filmes dramáticos como “Alemanha Ano Zero”, de Roberto Rossellini, até obras cômicas, como “Uma História de Água”, de Truffaut e Godard, e o irônico “A Mundana”, de Billy Wilder.
Segundo Mattos, seu objetivo não era incluir documentários ou arquivos, mas focar em filmes nos quais atores e tramas fossem organicamente incorporados a cenários de destruição recente. A proposta é observar como a ficção pode extrair valor dramático desses cenários enquanto as locações adquirem uma espécie de valor documental.
A crítica recebeu “Paisagens do Fim” com entusiasmo. João Moreira Salles considerou o assunto “fascinante”; Eduardo Escorel destacou a perspicácia estética do estudo; e Aurélio Michiles elogiou a edição sofisticada e emocional. Bráulio Tavares afirmou que o ensaio exibe a humanidade como uma “fagulha que ao mesmo tempo ilumina e se consome”, mostrando o olhar atento de Mattos sobre as várias interpretações cinematográficas de desastres e ruínas.