Com ecos de “Pulp Fiction”, “Strange Darling” é tributo ao cinema feito em película

Redação Culturize-se

“Strange Darling”, um thriller independente dirigido por JT Mollner e com cinematografia de Giovanni Ribisi, surgiu como uma obra que desafia as expectativas. Com um orçamento modesto de US$ 4 milhões, o filme é um produto autêntico do cinema indie e destaca-se pelo formato analógico, rodado em 35mm, uma escolha que confere à obra uma atmosfera fantasmagórica e setentista. Ribisi, que se lançou na direção de fotografia após anos de estudos, traz à tela uma experiência imersiva, acentuando o que ele e Mollner consideram essencial: a sensação comunitária de assistir a um filme em tela grande. Ribisi valoriza o impacto emocional do cinema e acredita que a experiência coletiva, especialmente em um filme como “Strange Darling”, engrandece o poder das imagens e as emoções compartilhadas.

A trama de “Strange Darling” não segue uma estrutura linear. Dividido em seis capítulos fora de ordem, o longa começa com uma cena de pura tensão, onde a Mulher, interpretada por Willa Fitzgerald, foge ensanguentada pela floresta. No encalço dela está o Demônio (Kyle Gallner), armado e sob efeito de cocaína, criando uma dinâmica de perseguição visceral. O filme explora uma abordagem única do gênero de suspense sobre serial killers, recusando-se a seguir as convenções típicas. Em vez disso, subverte o clichê ao se concentrar na luta intensa entre os personagens, enquanto o espectador é guiado por um emaranhado de cenas desconexas que mantêm o mistério até o fim. As reviravoltas e o formato fragmentado evocam a estética de “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino, entre outras influências marcantes como William Friedkin e Tobe Hooper.

A jornada de Ribisi até a cinematografia também adiciona camadas de interesse ao filme. Conhecido por seu trabalho como ator, ele acumulou anos de estudo de técnicas de filmagem, colaborando com mestres como Dante Spinotti e o falecido Andrew Lesnie, que o inspiraram a embarcar na arte de capturar imagens com precisão. Ribisi, em entrevista ao podcast MovieMaker, descreve sua fascinação com o cinema como algo que remonta à infância, quando ficava hipnotizado ao observar câmeras Panavision nos sets. Essa paixão o levou a abandonar completamente as câmeras digitais e se comprometer com o filme analógico, uma decisão que ele considera uma volta às raízes do cinema como uma “experiência mágica”.

Giovanni Ribisi no set de “Strange Darling” | Fotos: Divulgação

Embora a recepção do público nas salas norte-americanas tenha sido modesta, com bilheterias somando pouco mais de US$ 2 milhões, “Strange Darling” atraiu um grupo seleto de admiradores notáveis, incluindo Stephen King, Fede Alvarez e Kevin Bacon. Além disso, o cantor Kid Cudi ajudou na divulgação, promovendo uma sessão gratuita em Los Angeles. Esse apoio reflete a admiração que o filme gerou entre aqueles que valorizam o cinema independente e experimental.

Em uma indústria dominada por produções digitais de alto orçamento, “Strange Darling” é um tributo à era do filme em película e à força da colaboração criativa. Giovanni Ribisi e JT Mollner capturaram o que eles próprios descrevem como uma “experiência quase religiosa” do cinema, transcendendo limitações financeiras para criar um filme que se destaca tanto por sua estética quanto pela intensidade da narrativa.

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