Redação Culturize-se
Pamela Anderson e Demi Moore, duas ícones que dominaram Hollywood por décadas, compartilham mais do que apenas sua fama. Ambas as atrizes enfrentaram as duras realidades do envelhecimento em uma indústria que frequentemente descarta mulheres após atingirem certa idade, especialmente aquelas que foram estereotipadas como símbolos sexuais. Em 2024, no entanto, elas reagem ao assumir papéis que desafiam o etarismo e exploram as pressões que a sociedade impõe às mulheres à medida que envelhecem. Seus trabalhos nessa nova fase de suas carreiras — Moore em “A Substância” e Anderson em “The Last Showgirl” — oferecem uma oportunidade de refletir sobre como elas navegam pelo conceito de etarismo, tanto na tela quanto fora dela.
Demi Moore e a brutalidade do envelhecimento em “A Substância”
No mais recente filme de Demi Moore, “A Substância”, ela interpreta Elisabeth Sparkle, uma atriz envelhecida e ganhadora do Oscar que, em uma tentativa desesperada de recuperar sua juventude e fama, passa por uma grotesca transformação. O filme, que amealhou críticas positivas em Cannes, explora o horror corporal por uma perspectiva profundamente ligada à experiência de envelhecer em Hollywood. A personagem de Moore se rasga para revelar uma versão mais jovem e perfeita de si mesma, interpretada por Margaret Qualley. A transformação vem com condições rígidas — Elisabeth deve alternar entre sua versão mais jovem e a mais velha a cada sete dias. Essa representação brutal dos extremos aos quais as mulheres chegam para preservar a juventude não é apenas horror corporal; é uma alegoria para as expectativas impostas às mulheres na indústria do entretenimento.
Como a própria Moore disse em entrevista recente à Variety: “quando você persegue algo que acha que é melhor, corre o risco de perder o que já tem.” Aos 61 anos, Moore parece ter alcançado um estado de paz com seu corpo e carreira, depois de passar grande parte da vida lidando com as pressões de manter sua imagem. Ela admite que, no início de sua carreira, muito do foco estava em seu corpo, e não em seu talento. Em certo ponto, ela foi a atriz mais bem paga de Hollywood, estrelando filmes como “Ghost”, “Proposta Indecente” e “Striptease”, mas muitas vezes era sua fisicalidade que dominava as conversas. “Um dos maiores equívocos sobre mim é que eu amava meu corpo. A realidade é que muito disso era eu buscando projetos que me dessem a oportunidade de superar inseguranças sobre meu corpo.”
Apesar de muitos anos tentando se “libertar desse espaço de escravidão” em relação ao seu corpo, “A Substância” marca um ponto de virada em sua carreira. É um papel que permite a Moore confrontar e abraçar exatamente o que Hollywood muitas vezes usou contra ela: o envelhecimento. O filme oferece uma crítica contundente à obsessão da indústria do entretenimento com a juventude, beleza e à percepção de que as mulheres se tornam menos valiosas à medida que envelhecem. “Seus 60 anos não são mais como costumavam ser”, reflete Moore, aludindo à mudança cultural mais ampla em direção a papéis mais diversos e complexos para mulheres mais velhas. Ao assumir esse papel, Moore não apenas desafia as normas sociais, mas também redefine o que significa envelhecer em Hollywood.
A reinvenção de Pamela Anderson em The Last Showgirl
Pamela Anderson, outra atriz que foi estereotipada durante grande parte de sua carreira, também confronta o etarismo em seu último papel em “The Last Showgirl”. Conhecida mundialmente como a loira estonteante de “Baywatch“, Anderson passou boa parte de sua carreira sendo vista mais por sua aparência do que por seu talento. No entanto, seu recente papel como Shelley, uma dançarina envelhecida prestes a perder o emprego, permitiu-lhe interpretar uma personagem mais multidimensional, que ressoa profundamente com suas próprias experiências.
Ao contrário de Moore, que conseguiu interpretar uma variedade de papéis ao longo de sua carreira, Anderson há muito tempo foi confinada a papéis que enfatizavam sua sexualidade. Sua persona pública era de glamour e sensualidade, mas como Anderson explicou durante coletiva no Festival de Toronto, “The Last Showgirl” lhe deu a chance de fazer algo diferente. “Eu também me subestimava. E isso veio no momento certo”, disse ela, refletindo sobre como as estrelas se alinharam recentemente em sua vida. O filme mostra Anderson de forma mais crua e sem glamour, forçando o público a vê-la como mais do que apenas um símbolo sexual.
Em “The Last Showgirl”, a luta de Shelley não é apenas sobre idade, mas também sobre as duras realidades enfrentadas por mulheres no mundo do entretenimento — particularmente em lugares como Las Vegas, onde juventude e beleza são mercadorias. O filme critica como a sociedade desvaloriza as mulheres mais velhas enquanto simultaneamente objetifica as mais jovens. A personagem de Anderson reflete a pressão para permanecer relevante em uma indústria que constantemente exige reinvenção, ao mesmo tempo em que deixa claro que certas mulheres são vistas como descartáveis. Como Anderson coloca: “Também parece muito surreal, como se eu fosse acordar e isso não estivesse realmente acontecendo.”
O papel de Shelley, assim como o de Elisabeth de Moore, permite que Anderson explore a própria indústria que a tornou famosa, mas também a confinou. A jornada de Anderson neste filme espelha suas experiências reais de ser vista como um símbolo sexual e nada mais. O documentário “Pamela, A Love Story” e seu livro de memórias “Love, Pamela“ também desempenharam um papel crucial nessa reinvenção, dando a Anderson a plataforma para contar sua própria história e mostrar que ela é muito mais do que a imagem brilhante que Hollywood projetou sobre ela.
Desafiando a obsessão de Hollywood com a juventude
Ambos os filmes de Moore e Anderson desafiam a obsessão de Hollywood com a juventude, mas de maneiras diferentes. O filme de Moore é uma exploração fantástica e grotesca do que acontece quando alguém se recusa a deixar o passado para trás, enquanto o de Anderson é uma história emocional e fundamentada sobre uma mulher aceitando o fato de que seu tempo sob os holofotes pode estar chegando ao fim. Apesar dessas diferenças, ambos os filmes destacam as batalhas internas e externas que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, especialmente em indústrias que equiparam valor com juventude e beleza.
Esses filmes também são profundamente pessoais para as próprias atrizes, que tiveram que navegar pelo complexo cenário de Hollywood como mulheres que foram estereotipadas e depois forçadas a lidar com seu próprio envelhecimento. Moore, que muitas vezes foi celebrada por sua beleza em seus anos mais jovens, agora abraça papéis mais sombrios e complexos que lhe permitem explorar temas mais profundos de autoestima e pressão social. Da mesma forma, Anderson, que uma vez foi descartada como nada além de uma “garota de Baywatch“, agora está esculpindo um espaço para si mesma como uma atriz séria, desafiando as suposições que há muito tempo assombram sua carreira.
O que une ambas as mulheres não é apenas sua reinvenção pessoal e profissional, mas também sua disposição de confrontar os problemas de longa data de Hollywood com o etarismo. Através desses papéis, Moore e Anderson estão provando que estão longe de terminar. Suas histórias não são apenas sobre confrontar o etarismo, mas também sobre reivindicar suas narrativas em uma indústria que muitas vezes tenta descartar as mulheres quando elas atingem certa idade.