Redação Culturize-se
O termo “nepo baby” – abreviação de “nepotismo baby” – ganhou destaque nos últimos anos para descrever filhos de celebridades que seguem carreiras na indústria do entretenimento. Em Hollywood, o fenômeno não é novo, mas o debate sobre seus impactos se intensificou. Esse debate reflete uma discussão intensa sobre os privilégios e as percepções em torno das celebridades que cresceram no seio de famílias influentes.
O debate levanta questões sobre meritocracia e oportunidades na indústria do entretenimento. Enquanto alguns argumentam que o talento eventualmente se sobressai, críticos apontam para a falta de diversidade e representatividade em Hollywood.
A discussão sobre nepo babies também se estende a outras indústrias, como moda, política e negócios, refletindo preocupações mais amplas sobre desigualdade social e mobilidade econômica. A questão é complexa e envolve questões de privilégio, talento, pressão e oportunidade.
Pressão ou privilégio?
Lily Collins, filha do músico Phil Collins, é uma das que abordaram o tema com um certo desconforto. Embora reconheça o privilégio de ser filha de uma lenda da música, Collins enfatiza que a sua jornada como atriz foi repleta de desafios próprios. “É uma pressão, mas ao mesmo tempo, eu queria muito me distanciar da sombra do meu pai e criar algo próprio”, disse Collins. Ela teve que provar a si mesma, não apenas para a indústria, mas também para ela mesma, como uma artista independente.
Dakota Johnson, filha de Don Johnson e Melanie Griffith, compartilha uma experiência semelhante. Johnson, que conquistou fama com a franquia “Cinquenta Tons de Cinza”, revelou em entrevistas que, apesar das vantagens iniciais, ela também enfrentou muitas rejeições e dúvidas sobre sua capacidade. “Quando seu sobrenome é Johnson, Griffith, ou mesmo Hedren, as pessoas esperam muito de você. E isso pode ser um fardo”, explicou Dakota, referindo-se à sua avó, Tippi Hedren.
Já Maya Hawke, filha dos atores Ethan Hawke e Uma Thurman, se mostra mais à vontade como nepo baby. “Está tudo bem ser alvo de piadas quando você está numa situação tão privilegiada. É uma sorte estar assim”. Maya foi questionada se acha que merece o reconhecimento que recebeu da indústria: “Merecer é uma palavra complicada. Há tantas pessoas que merecem ter esse tipo de vida e não tem, mas acho que me sinto confortável em não merecer e fazer isso de qualquer maneira”.
Em busca da meritocracia
Já Zoe Kravitz, filha de Lenny Kravitz e Lisa Bonet, rejeita a ideia de que o sucesso foi entregue de bandeja para ela. Kravitz afirma que o nepotismo pode abrir portas, mas a verdadeira prova está no talento e na perseverança. “Você pode entrar, mas tem que se manter lá com base no seu próprio mérito”, comentou Kravitz. Com uma carreira que abrange cinema, televisão e música, Zoe conseguiu esculpir sua própria identidade, ainda que seja inegável a influência e os recursos proporcionados por sua linhagem.
Por outro lado, Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp e da cantora Vanessa Paradis, tem uma visão mais defensiva sobre o tema. Ela já afirmou que nada é garantido e que o público muitas vezes não vê o esforço por trás de cada conquista. “As pessoas sempre vão ter opiniões, mas no final do dia, o trabalho duro fala mais alto”, disse Depp, reforçando que sua herança não diminui seu esforço individual.
Maude Apatow, filha do diretor Judd Apatow e da atriz Leslie Mann, teve uma ascensão na indústria com a ajuda de seus pais, mas também enfrentou o escrutínio público. Estrela da série Euphoria, Apatow reconheceu em entrevistas que entende o motivo das críticas, mas insiste que seu sucesso é fruto de seu trabalho árduo. “Eu sei que tenho vantagens, mas também sei que estou me esforçando para ser uma boa atriz por conta própria”, comentou.
O debate se intensifica ainda mais quando figuras como Ben Stiller, filho dos comediantes Jerry Stiller e Anne Meara, evitam entrar em detalhes sobre o assunto, enquanto Gwyneth Paltrow, filha da atriz Blythe Danner e do produtor Bruce Paltrow, se opõe ao termo “nepo baby”, descrevendo-o como um apelido pejorativo. Paltrow argumenta que, embora o nepotismo seja uma realidade, ele não diminui o talento ou o esforço necessário para alcançar o sucesso. “No final das contas, as portas podem se abrir, mas é o talento que sustenta a carreira”, afirmou Paltrow.
Filha de Eric Roberts e sobrinha de Julia, Emma Roberts acha que as pessoas são tendenciosas na hora de julgar os nepo babies. “Só veem suas vitórias porque só veem quando você está no pôster de um filme. Eles não veem toda a rejeição ao longo do caminho. É por isso que sou sempre muito aberta sobre as coisas para as quais fiz testes e para as quais não consegui o papel. Acho importante falar sobre isso – caso contrário, as pessoas simplesmente pensam que tudo tem sido tão bom, linear e fácil, e não é nada disso”, disse em entrevista recente. “Acho que há algo a ser dito sobre o fato de que todo mundo adora o tipo de história de sucesso da noite para o dia. E então, se você não é a garota do meio do nada que invadiu Hollywood, há uma espécie de revirar os olhos, tipo: ‘Bem, seu pai era isso”, acrescentou.
A atriz destacou que “há dois lados da moeda” em vir de uma família já bem estabelecida em Hollywood. “As pessoas gostam de dizer que você tem uma vantagem porque tem família na indústria. Mas o outro lado disso é que você precisa provar mais a si mesmo. Além disso, se as pessoas não tiverem boas experiências com outras pessoas da sua família, você nunca terá uma chance”, continuou.
As trajetórias dessas celebridades demonstram que, embora o nepotismo ofereça vantagens inegáveis, ele também carrega suas próprias complexidades. A pressão para corresponder às expectativas, o desejo de se destacar independentemente do legado familiar, e a constante necessidade de validação são desafios enfrentados por muitos “nepo babies”. Enquanto uns aceitam e até abraçam a noção de privilégio, outros lutam para afirmar sua independência artística em uma indústria que, paradoxalmente, lhes deu tudo e exige ainda mais.
O debate sobre os “nepo babies” não é apenas sobre justiça ou meritocracia, mas também sobre a dualidade de viver sob os holofotes desde o nascimento e a constante batalha para provar que, apesar do sobrenome famoso, há um talento autêntico e merecedor de reconhecimento. O que é certo é que a conversa está longe de terminar, enquanto Hollywood e o público continuam a examinar o papel das conexões familiares no sucesso na indústria do entretenimento.