Por Reinaldo Glioche
O uruguaio Fede Alvarez domina os códigos do cinema de horror como poucos e isso se vê ao longo de “Alien: Romulus”, filme que se situa entre o primeiro e o segundo da saga. É, portanto, um requel (reboot e sequência), cujo divisivo terceiro ato aponta caminhos para o futuro da franquia no cinema e no streaming (uma série de TV será lançada em 2025).
O design, a direção de arte e os efeitos especiais são de cair o queixo e a narrativa é muito bem costurada pelo roteiro, que Alvarez assina ao lado de Rodo Sayagues. São elementos que ajudam a tornar essa nova incursão da série tão elegante quanto assustadora.
O longa se passa maiormente dentro de uma estação espacial desativada, mas também nos leva a uma colônia e ganha pontos por situar em um contexto pouco abordado pelos filmes anteriores.
Na trama, um grupo de jovens vasculha a estação espacial que batiza o novo filme na esperança de encontrar câmaras de criogenia para fugirem da referida colônia, que está em um planeta condenado. Eles acabam, porém, se deparando com os xenoformos.
“Romulus” é tremendamente reverente ao filme original e há peças de ação nitidamente inspiradas no filme de 1979, mas tem personalidade, a começar pela forma como trabalha os personagens Rain (Cailee Spaeny) e Andy (David Jonsson). Ela, uma jovem que perdeu o pai nas minas, ele, o sintético, ou como prefere, humano artificial, que seu pai programou para “fazer o melhor para Rain”. O longa recicla muito bem elementos trabalhados nas incursões anteriores da série como a relação entre maternidade e as criaturas alienígenas, a essência dos sintéticos em exposição à humanidade e a atroz influência capitalista nos rumos dos personagens cristalizada na figura da empresa Weyland – Yutani.
Se Andy não tem a complexidade de David, o sintético vivido por Michael Fassbender nos dois prelúdios dirigidos por Ridley Scott, se difere pela dualidade seminal entre aspiração e programação. Seu conflito é de longe o melhor filme e Jonsson é muito hábil em externalizá-lo com expressões que mimetizam contradições, angústias e incompreensão alternando sempre entre o mecânico e o (quase) humano. Um trabalho delicado que encontra par na atuação energética e carismática de Spaeny, que esquiva-se da sombra de Sigourney Weaver criando uma personagem emocional, viril e inteligente que rapidamente se conecta com a audiência.
“Alien: Romulus” é cinemão da melhor qualidade, do tipo que causa arrepios e maravilhamento na sala escura com perfeito alinhamento dos fundamentos cinematográficos sob a batuta do competente e cada vez mais obrigatório Fede Alvarez.