Por Reinaldo Glioche
“O Último Pub”, o possível filme final de Ken Loach, serve como uma conclusão apropriada para sua carreira de seis décadas, incorporando os temas de luta social e dignidade humana que definiram seu trabalho. Ambientado em uma cidade outrora mineradora em declínio no nordeste da Inglaterra, o filme explora a interseção de antigos e novos desafios enfrentados pelas comunidades da classe trabalhadora. Desta vez, Loach tece uma narrativa que se concentra não apenas nas dificuldades dos residentes locais, mas também na situação dos refugiados sírios que são lançados nesse ambiente decadente, destacando a relevância contínua de sua narrativa socialmente consciente.
O protagonista, T.J. Ballantyne, interpretado por Dave Turner, é emblemático do típico herói de Loach: um homem da classe trabalhadora abatido pelas duras realidades da vida moderna. A vida de T.J. gira em torno de “The Old Oak”, um pub em ruínas que ele administra com um senso de dever para com a comunidade, mesmo enquanto a cidade desmorona ao seu redor. O pub, como seu dono, é uma relíquia de uma era passada, lutando para se manter de pé—tanto física quanto metaforicamente—como o último ponto de encontro em uma comunidade devastada pelo desemprego e pela decadência social.
A narrativa é ambientada em 2016, um ano marcado por mudanças sociopolíticas significativas no Reino Unido, mais notavelmente o voto do Brexit. Embora o Brexit não seja mencionado diretamente, o filme reflete sutilmente a atmosfera de divisão e desilusão que caracterizou esse período. A chegada de refugiados sírios na cidade atua como um catalisador para a história, trazendo à tona os preconceitos e medos latentes da população local. Os refugiados, que fugiram dos horrores da guerra, são recebidos com hostilidade e desconfiança por muitos dos habitantes da cidade, que os veem como intrusos competindo por recursos escassos.
Loach e o roteirista Paul Laverty exploram habilmente as tensões entre o velho e o novo, o local e o estrangeiro. T.J., que já sofreu perdas pessoais—sua família e seu senso de propósito—se vê dividido entre sua lealdade aos conterrâneos e sua crescente simpatia pelos refugiados. Sua conexão com Yara, uma jovem síria e aspirante a fotógrafa, torna-se o coração emocional do filme. Yara, interpretada por Ebla Mari, representa esperança e resiliência diante da adversidade. Suas fotografias, que capturam tanto a hostilidade quanto os pequenos momentos de gentileza que ela encontra, servem como um poderoso dispositivo narrativo, ilustrando a possibilidade de ver além da própria dor e preconceito.
“O Último Pub” não hesita em retratar a feiura do racismo e da xenofobia, mas também oferece momentos de ternura e solidariedade. As cenas em que a comunidade se reúne para compartilhar refeições no pub de T.J., lembrando a solidariedade durante a greve dos mineiros de 1984, fornecem um contraste gritante com o ódio e o medo que alguns dos personagens abrigam. Esses momentos sugerem que, apesar das profundas divisões, ainda há capacidade para empatia e ação coletiva.
Embora o longa carregue o peso do desespero, também é imbuído de um otimismo cauteloso. A conclusão do filme, embora não completamente livre da característica melancolia de Loach, sugere que ainda há espaço para esperança, mesmo nas comunidades mais divididas e desamparadas. A resolução pode parecer um pouco artificial, e alguns dos diálogos podem soar mais como discursos do que conversas naturais, mas esses são defeitos menores em uma narrativa poderosa.
Como uma despedida potencial de um diretor que passou sua carreira defendendo os oprimidos, “O Último Pub” é uma nota pungente e adequada. Ele encapsula a crença duradoura de Loach na importância da solidariedade, da comunidade e da luta pela dignidade diante da opressão sistêmica. Se este realmente for o último filme do cineasta, é um testamento digno de seu legado, que consistentemente deu voz àqueles que muitas vezes não são ouvidos.