Por Reinaldo Glioche
O filme de estreia de Christy Hall, que também assina o roteiro de “Daddio”, é daqueles que se passam em um único ambiente, no caso um táxi que anda pelas ruas de Nova York, e se concentra nos diálogos fluindo do humor mais simplista à tensão mais cortante, passando por genuínos momentos de ternura, ansiedade e empatia.
O longa não abriga a ambição de apresentar um momento definidor na vida das duas personagens que enchem a tela, mas de ofertar um encontro tão casual quanto necessário para duas pessoas que simplesmente tiveram um dia ruim.
Dakota Johnson, uma atriz cada vez mais cativante, entra no carro do taxista vivido por Sean Penn. A beleza e segurança dela convidam o olhar dele. Ela não mergulha na tela do celular, o que faz com que ele a elogie. Ele tem senso de humor, ela um sorriso bonito. É um encontro fortuito que estimula os dois por razões que lhe são alheias.
Da abstração em que o dinheiro se lançou ao parâmetros das relações afetivas, esses dois estranhos que parecem nutrir curiosidade um pelo outro, mais pelas circunstâncias de terem se encontrado na cidade que nunca dorme do que por se sentirem efetivamente atraídos um pelo outro, se jogam numa espiral de análise e conjectura sobre as próprias auras.
A força do filme de Hall reside na qualidade dos diálogos e no desenho de personagens crus, que não estão a serviço de qualquer agenda que seja, mas sim de emular uma reprodutibilidade palpável em qualquer círculo social.
“Daddio” é um filme sobre um momento, um recorte muito específico na vida de duas pessoas completamente distintas que talvez nunca se encontrassem e provavelmente jamais se esbarrarão depois daquela corrida. As reminiscências daquele encontro podem ser duradouras ou se esvair após uma noite de sono. É um remonte da aleatoriedade da vida, de seus caprichos e de como construímos afetos e convicções.