Redação Culturize-se
Christian Levett, antigo gestor de fundos britânico, reinventou seu museu no sul da França com um foco exclusivo na arte feminina. O Museu Mougins, inaugurado em 2011, que anteriormente abrigava uma coleção de antiguidades egípcias, gregas e romanas, agora dedica seus quatro andares à celebração de pinturas e esculturas criadas por mulheres, desde o impressionismo até o contemporâneo.
A decisão de Levett em reorientar o museu surgiu não apenas devido às mudanças no mercado de antiguidades, mas também por sua crescente paixão pela arte moderna e contemporânea. Em 2013, ele começou a adquirir obras de renomadas artistas femininas, como Joan Mitchell, Lee Krasner, Helen Frankenthaler, Cecily Brown e Tracey Emin. Sua motivação principal foi a percepção de que era possível formar uma coleção de qualidade museológica com obras de mulheres artistas, muitas vezes subvalorizadas no mercado de arte.
Levett destaca que a arte criada por mulheres, apesar de sua alta qualidade, ainda é vendida por uma fração do preço das obras feitas por homens. Um exemplo é “Profecia” (1956) de Lee Krasner, uma pintura de grande importância histórica que Levett adquiriu por mais de US$ 5 milhões em 2019. Esta obra, apesar de amplamente exibida e publicada, nunca foi integrada à coleção permanente de nenhum museu americano.
As artistas femininas da era pós-guerra, como Krasner, expuseram nas mesmas galerias que seus colegas masculinos e também venderam para grandes museus. No entanto, os homens tornaram-se infinitamente mais famosos, enquanto as mulheres foram largamente excluídas da narrativa histórica da arte. Levett observa que Irving Sandler, em seu livro “The Triumph of American Painting” de 1970, não incluiu uma única pintura de uma mulher artista, refletindo a exclusão sistemática das mulheres na história da arte.
Nos últimos anos, essa tendência tem lentamente mudado, com museus e acadêmicos focando mais em artistas femininas, tanto históricas quanto contemporâneas. Levett espera que seu museu, ao se concentrar exclusivamente em mulheres artistas, contribua para restabelecer esse equilíbrio.
A coleção do Museu Mougins oferece uma visão abrangente da história da arte feminina. Nos quatro andares do edifício, os visitantes podem explorar seções dedicadas a diferentes movimentos e estilos, começando com os impressionistas como Mary Cassatt, Berthe Morisot, Eva Gonzalès e Blanche Hoschedé Monet. O museu também apresenta obras surrealistas de Leonora Carrington e Dorothea Tanning, além de artistas do expressionismo abstrato e da arte contemporânea.
Essa iniciativa de Levett alinha-se com outras instituições e espaços que promovem a arte feminina. Em Paris, o Museu Nacional das Mulheres e a Galeries Hermine destacam a produção artística feminina através de coleções permanentes, exposições temporárias e eventos. O Espace 365 em Strasbourg e a organização Le Matrimoine também trabalham para aumentar a visibilidade das artistas mulheres, oferecendo exposições, performances, workshops e cursos.
Esses esforços conjuntos não apenas celebram as contribuições das mulheres na arte, mas também desafiam a desigualdade de gênero persistente no mundo artístico. O Museu Mougins, com sua coleção dedicada à arte feminina, representa um passo significativo nessa direção, honrando a criatividade e a expressão das mulheres artistas ao longo da história e no cenário contemporâneo.