Por Reinaldo Glioche
Daquelas séries abaixo do radar, mas incrivelmente saborosas, a espanhola “O Museu”, disponível no Star+, ironiza o estado vigente da arte. A criação de Gastón Duprat, Andrés Duprat e Mariano Cohn, mesmo time responsável por “Meu Querido Zelador”, ri da correção política e de sua influência na arte contemporânea, bem como ironiza os padrões e percepções da sociedade moderna.
A série acompanha, em seis episódios de 30 minutos, Antonio Dumas (Oscar Martínez), um renomado historiador de arte e gestor cultural, que assume a direção de um importante museu de arte contemporânea em Madrid. Culto, sofisticado, porém cínico e vaidoso, ele irá se deparar com uma série de desafios na nova função, que vão desde pressões políticas a situações embaraçosas envolvendo artistas e exposições.
A acidez da série abastece sua visão crítica do mundo atual e vice-versa, mas o que mais chama atenção é mesmo a inteligência com que articula seus comentários sobre a arte contemporânea e suas implicações sociais. Em um episódio, por exemplo, um grupo senegalês é contratado para fazer uma instalação no museu. A proposta é reproduzir no espaço o modo de vida da tribo. Após o mês de contrato, o grupo se recusa a ir embora do museu. Um pepino e tanto para Dumas resolver sem chamar a atenção de maneira equivocada para a instituição. O caso, entretanto, evidencia a diferença entre discurso e prática na dialética europeia progressista em relação à imigração e, nesse sentido, é especialmente inspirada a abordagem proposta pela série.
Em outro episódio, um artista que é filho de um dos banqueiros mais ricos da Espanha inaugura uma obra no museu que é uma baleia morta. A mensagem é, claro, ambientalista. Acontece que o bicho naturalmente começa a se decompor e a feder. Mas o artista se recusa a substituir a obra por uma réplica de resina. Após a vigilância sanitária interditar o museu, Dumas precisa tomar uma medida administrativa mais drástica. A situação revela o grau de egocentrismo que habita nossa sociedade e como a arte serve como pretexto.
“O Museu” é o tipo de série que agrada os fãs de comédia e aqueles que procuram uma produção inteligente, que instigue à reflexão, mas que não exija muitas horas de dedicação. A obra é tão bem urdida, econômica e direta que ao fim deixa um gostinho de quero mais na audiência.