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A erupção da masculinidade é o eixo gravitacional de “Ferrari”

Por Reinaldo Glioche

Michael Mann é um animal de outra natureza na paisagem do cinema contemporâneo e ajuda na diapasão desse cinema que une som e artesanato, quadros e intuições, emoções e imagem, contar com dois atores do quilate de Adam Driver e Penelope Cruz. A dramaturgia de “Ferrari”, um filme que se ocupa das circunstâncias do fundador da scuderia e fábrica de automóveis homônima, bem como de sua tumultuada relação conjugal, está sempre em alta voltagem, mas não existe apenas por existir.

Cena do filme "Ferrari"
Foto: Divulgação

O cinema de Michael Mann tem por hábito estudar as circunstâncias da masculinidade em contextos diversos e específicos. De “O Último dos Moicanos” (1992) a “Ali” (2001), passando pelos épicos do crime “Fogo contra Fogo” (1995), “Colateral” (2004) e “Inimigos Públicos” (2009), Mann costura saliências e intermitências da masculinidade sempre com esmero e contemplação. Em “Ferrari” não é diferente.

Interessa, claro, a concepção de vida, de objetivo de vida, de Enzo Ferrari (Driver), bem como suas paixões e inseguranças, mas o foco aqui está na erupção da masculinidade. Enzo é fruto da guerra, mas também da convivência com mulheres castradoras. A proximidade da morte, estruturada em paixão pela velocidade, foi uma companhia acolhida e aí está a interseccionalidade com seus pilotos, com quem mantém relação tumultuada.

A morte de seu primogênito matou sua relação com Laura (Cruz), embora eles permaneçam casados. E desses pequenos desmontes Enzo vai subsistindo. Não se trata de um exame sobre ciclos empresariais ou paixão por velocidade, nem mesmo sobre um homem fragmentado por seu passado e presente, embora haja alinhamento entre essas vertentes. O que Mann articula com tremendo artifício – e Adam Driver se prova molde muito fácil de manusear – é esse tratado a masculinidade à beira do precipício, suas implicações e incidências.

“Ferrari” não é um filme perfeito, tampouco se concatena com biografias mais convencionais, mas se consolida tanto como um observatório da masculinidade em erupção, como um olhar gentil sobre tempos e homens que não voltam mais.

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