Por Reinaldo Glioche
O cineasta inglês Christopher Nolan é indiretamente responsável pela expansão da categoria de Melhor Filme no Oscar de cinco para 10 indicados, isso porque pegou muito mal a exclusão do longa “Batman – o Cavaleiro das Trevas” da disputa principal no Oscar, em 2009, mesmo depois do longa frequentar as principais prévias dos prêmios da Academia, incluindo os sindicatos dos diretores e produtores. O filme amealhou oito indicações, mas houve consenso entre público e crítica de que merecia mais apreço pelo Oscar.
“A Origem” (2010), o filme subsequente de Nolan, obteve nomeações mais prestigiosas em 2011, como roteiro original, e colocou Nolan na disputa por Melhor Filme pela primeira vez na sua carreira. Com seu épico de guerra “Dunkirk” (2017), porém, ele travaria aquela que seria sua primeira disputa real no Oscar. A produção ganhou menos estatuetas do que “A Origem” (3 x 4), mas além da disputa em Melhor Filme, Nolan competiu pela primeira vez na categoria de Direção.
Em 2024, o cineasta volta ao Oscar com força total. “Oppenheimer” lidera a disputa com 13 indicações e Nolan está pessoalmente indicado em três categorias – Roteiro Adaptado, Direção e Filme. Existe, ainda, um deslumbramento a favor do filme, do que ele conquistou em 2023. O longa marcou a primeira colaboração de Nolan com outro estúdio que não a Warner Bros., no caso a Universal; esse fato apenas já gerava uma ansiedade generalizada. Um orçamento de US$ 100 milhões para uma biografia sobre o pai da bomba atômica lançada em pleno verão americano e, veja você, com o lançamento de “Barbie”, da Warner, no mesmo dia.
Defensor da experiência na sala de cinema, Nolan garantiu uma janela de no mínimo 100 dias entre o lançamento do filme nos cinemas e sua disponibilização no on demand, algo raro no mundo do entretenimento pós-pandemia. “Oppenheimer” conseguiu a proeza de amealhar quase US$ 1 bilhão nas bilheterias. Nolan é uma grife, sim, mas sua permeabilidade se provou mais do que nunca com um filme profundamente autoral e, ainda assim, com forte pendor comercial.
Indo além, “Oppenheimer” é um triunfo de narrativa. Da experiência cinematográfica exuberante, apoiada em técnica robusta e em estrelas dispostas a trabalhar com um material de verve e ressonância. É, também, uma demonstração eloquente do talento de Christopher Nolan como artesão do cinema, de sua evolução como cineasta, de sua disposição em conter vícios e explorar virtudes. É, em suma, o filme perfeito para prover sua consagração no Oscar.