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“Anatomia de uma Queda” revitaliza interesse do público pelo cinema de arte francês

Redação Culturize-se

“Anatomia de uma Queda”, o thriller judicial de Justine Triet sobre uma escritora acusada de assassinar seu marido em seu isolado chalé de montanha, estreia em 18 de janeiro no Brasil, mas nos EUA já apresenta uma vitoriosa carreira comercial.

Desde que ganhou a Palma de Ouro (o maior prêmio do festival) no Festival de Cinema de Cannes em maio de 2023, “Anatomia de uma Queda” teve um desempenho impressionante nas bilheteiras internacionais. Nos Estados Unidos, arrecadou quase US$4 milhões, tornando-se a maior bilheteria de um filme em língua estrangeira desde a pandemia, segundo a Neon, sua distribuidora nos EUA. No Reino Unido e na Irlanda, tornou-se o primeiro título em língua francesa em mais de uma década a ultrapassar £1 milhão nas bilheteiras.

Essa adesão ajuda a entender as vitórias no último domingo no Globo de Ouro, onde o longa de Triet faturou os prêmios de Roteiro e Filme Internacional. Os críticos elogiaram o filme, com uma classificação de 96% “Certified Fresh” no Rotten Tomatoes. A crítica de Culturize-se pode ser conferida aqui. Surpreendentemente, ele não está na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional deste ano. O comitê do Oscar da França ignorou o filme, com vários insiders franceses sugerindo que “Triet está possivelmente sendo ‘punida’ por criticar o governo francês em seu inflamado discurso político em Cannes”, de acordo com a Variety.

Anatomia de uma queda
Cena de “Anatomia de uma Queda” | Foto: Divulgação

Filmes de arte franceses – dramas de baixo orçamento marcados pelo realismo, ambiguidade e frequentemente apresentados em festivais – têm enfrentado dificuldades nas bilheteiras internacionais nos últimos anos. Apesar de uma indicação ao Oscar, “Os Miseráveis” (2019) vendeu menos de 400.000 ingressos de cinema na Europa fora da França, de acordo com o banco de dados de filmes Lumiere.

Dois fatores cruciais explicam por que “Anatomia de uma Queda” reverteu essa tendência de queda do interesse pelo cinema de arte francês. Primeiro, após uma fase em que filmes de arte franceses como “Os Miseráveis” e “Dheepan” (2015) exploraram os problemas sociais mais ásperos de uma realidade muito inerente aos franceses, o filme de Triet foca em relacionamentos burgueses problemáticos por meio de sua história de um casamento de classe média tenso por rivalidade profissional, ciúmes e culpa parental.

Relacionamentos burgueses problemáticos são explorados por sucessos anteriores de filmes de arte franceses, como “Dois Dias em Paris” (2007), “Amor” (2012) e “Azul É a Cor Mais Quente” (2014).

O segundo fator aspecto preponderante ao apelo de “Anatomia de uma Queda” está em seu triunfo na Palma de Ouro, o principal prêmio do Festival de Cinema de Cannes, um defensor do cinema de arte popular. Pesquisas destacam a importância do prêmio na formulação do interesse de audiências globais por um cinema de arte como aspirações comerciais. “Titane” (2021), outro filme francês que triunfou recentemente em Cannes, nesse sentido, pode ter sido prejudicado pelas restrições impostas pelo surto de Covid.

Ao garantir a Palma de Ouro com um drama que se concentra em um relacionamento amoroso de classe média problemático e em um caso jurídico, “Anatomia de uma Queda” reacendeu a paixão global pelo cinema de arte francês. No entanto, também mostra que os fãs do cinema de arte francês podem ser surpreendentemente conservadores em seus gostos, muitas vezes ignorando filmes com temas e estilos mais desafiadores.

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