A cantora americana Taylor Swift, que coleciona recordes, fãs e marca a indústria, traz pela primeira vez uma turnê sua ao Brasil com o peso de ser uma das maiores da história
Por Mayra Couto
Na internet a frase que mais roda e vira meme quando ela vence uma nova premiação ou lança um novo projeto, que ocupa o topo dos streamings em minutos, é uma só: “Ela é a indústria”. Ao todo são 12 Grammys – inclusive, o primeiro conquistou aos 20 anos com seu 2° álbum, se tornando a artista mais jovem a conquistar o prêmio – 29 American Music Awards – ela superou o recorde de Michael Jackson – e 23 astronautas do VMA – só esse ano conquistou 9 superando o recorde de Madonna. Esses são só alguns números que mostram o quanto Taylor Swift é gigante.
A turnê dela chega ao Brasil em novembro e já carrega o peso de ser a maior da história, com direito a filas quilométricas nas vendas dos ingressos, que precisou ter interferência da polícia, e filas online com mais de 1 milhão de pessoas tentando comprar. Como a garota de 16 anos, que cantava country, se tornou um dos maiores nomes da indústria pop?
Taylor Swift lançou seu primeiro álbum em 2006, e já chamou atenção com as músicas “Tim McGraw, Should`ve Said No” e “Teardrops on My Guitar”, no álbum inclusive também tinha uma versão dessa música em pop. Ainda no country, ela ganhou seu primeiro Grammy, com seu 2° álbum “Fearless”, também venceu o polêmico VMA de melhor clipe do ano, em 2009, com “You belong With Me”, em que o rapper Kanye West invadiu o palco para dizer que o melhor clipe do ano, na opinião dele, era o da Beyoncé. Na época o assunto repercutiu mundialmente, com direito a Taylor Swift receber uma ligação do então presidente Obama.
“Originalmente é uma cantora country que a partir das próprias reconfigurações e ampliação de mercado se direciona para o pop. Essa transição acontece de forma lenta e já começa ali com o álbum ‘Red’, que já tem algumas questões ligadas ao pop. E a acentuação do pop em si vem no álbum ‘1989’, que de fato a consolida no pop”, comenta Thiago Soares, professor, pesquisador e coordenador do grupo de pesquisa em Comunicação, Música e Cultura Pop da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Essa mudança acho que vem acompanhada com uma certa mudança de postura midiática da Taylor. Ela aparece claramente se projetar midiaticamente a partir de uma figura mais autoconsciente. E começa a produzir clipes com maior produção”.
Em sua trajetória Taylor dividiu momentos de vulnerabilidade, frustrações e criou uma comunidade forte com seus fãs no mundo todo. E acabou criando sua própria narrativa, contando detalhes de relacionamentos, vulnerabilidades em suas músicas e, inclusive, deixando easter eggs nos encartes dos seus álbuns. “A importância dela para, além da numérica, exala nos usos estratégicos da indústria. Tem até a máxima de `Taylor Swift é a indústria`. Ela soube entender as dinâmicas da indústria na cultura digital e também entendeu essas dinâmicas que envolvem agora práticas dos fãs na cultura digital. Essas especulações dos fãs, inclusive em torno da sua vida privada. Além de que, ela soube reconfigurar a própria obra, em direção a propriedade intelectual da sua obra e a disputa com o Scooter Brown”, analisa Thiago.
Desde seu surgimento em 2006, Taylor tinha contrato assinado com a gravadora Big Machine Records. Em 2019, ela fechou com a Universal e viu sua antiga gravadora, detentora do direito de todos os seus álbuns até aquele ano, ser vendida para o empresário e produtor Scooter Brown. Taylor abriu um debate público sobre a propriedade intelectual de artistas sobre sua obra e na época deu a seguinte declaração: “Tudo o que eu consegui pensar foi no bullying incessante e manipulador que eu recebi dele por anos. Como quando Kim Kardashian orquestrou o vazamento de um trecho de uma gravação ilegal e Scooter e dois de seus clientes fizeram bullying online comigo. Ou quando seu cliente Kanye West organizou um clipe de revenge que me coloca de corpo nu. Agora Scooter me despiu de uma vida de trabalhos, que eu não tive a oportunidade de comprar. Essencialmente, meu legado musical está prestes a ficar na mão de alguém que tentou arruiná-lo”.
O que aconteceu com Taylor chamou atenção de toda a indústria e coube a ela ser pioneira mais uma vez; a cantora decidiu regravar todos os seus álbuns antigos. Inclusive, ressignificando esses trabalhos com novas músicas e versões mais estendidas, uma delas “All To Well”, levou um novo Grammy de melhor clipe.
A vida pessoal de Taylor pautava suas composições pessoais, mas também os tabloides que a perseguiam com manchetes que falavam sobre seus ex. E que com os anos ela passou a rebater. “Prefiro apostar em uma discussão que leve em consideração a construção de uma estratégia de uma personagem que é vítima dessas relações de gêneros, por ela ser mulher. Parece ter uma relação estratégica em que ela vai evidenciando e criando essa narrativa. Tantos homens podem escrever sobre suas ex e ela como mulher não”, comenta Soares.
Contudo, a importância da Taylor transcende a esfera da música. Atualmente a NFL só fala dela, que está saindo com o jogador Travis Kelce. Depois das imagens dela no estádio, começou a viralizar até vídeos de jogadores dançando e cantando seus primeiros sucessos, como “Love Story”. E também abrange a política: “No ponto de vista cultural, acho que a importância da Taylor, além da indústria, tem uma importância política muito grande. Ela foi alvo em 2016, na eleição do Trump, vinculada a grupos de supremacia branca. A ponto dela ter que fazer declarações afirmando que não apoiava o partido republicano. E aí ela entra no campo da esfera das disputas políticas por voto, então acho que ela tem uma relevância central também no campo político”, afirma Soares.
Momento especial para os fãs brasileiros
Essa é a primeira vez que Taylor traz sua turnê para o Brasil. Ela veio uma única vez, em 2012, para divulgar o álbum “Red” em um pocket show fechado, apenas para convidados. Na época, ela também divulgou a versão de “Long Leave” feat com Paula Fernandes e fez uma passagem pelo programa da Xuxa, que rendeu vários memes na internet. Taylor tinha datas para trazer sua turnê Lover para o Brasil, que foi cancelada pela pandemia. Agora, chega ao país com a “The Eras Tour”, um marco na sua carreira que celebra seus 17 anos de música e passa por sucessos de todos os álbuns e das suas `eras`, como o público costuma fazer referência a cada fase.
A artista nem chegou no Brasil e as expectativas já são gigantes. “Existe cada vez mais uma necessidade das pessoas de buscar experiências, de viver momentos especiais e isso também tem reflexo das redes sociais. Existe esse ponto, e é contemporâneo. Acho interessante esse fenômeno. É uma realidade de um tipo de mercado muito grande. Uma turnê como essa movimenta muito a economia do lugar, porque trás pessoas de outros lugares, movimenta restaurantes, turismo, hotelaria”, comenta Rodolfo Lacerda, produtor cultural, gestor de carreira e fundador do Música em Rede.
Os ingressos para os shows que acontecem no fim de novembro renderam filas quilométricas presenciais e `online`. O produtor cultural também comenta a dimensão do evento e da relação com os fãs: “Existe uma camada mais profunda, de identificação de fãs. `Eu preciso ver essa pessoa de perto`, e o brasileiro se entrega muito para essas experiências e esses artistas. Ali é como se fosse o ápice dessa relação do artista e do fã. E da importância que tem na vida do fã”, comenta Lacerda.
Os fãs atestam. “Eu lembro de ouvir ‘Love Story’ pela primeira vez na rádio em 2008/2009 e de ficar com a música na cabeça por um tempo até descobrir de quem era. Foi aí que comecei a ouvir Taylor. Mas virei fã e comecei a acompanhar ela mesmo com o lançamento do ‘Speak Now’. Lembro de ir na loja com a ansiedade gritando para comprar o CD”, conta Igor Vélez, pedagogo.
E não para por aí! O amor por Taylor virou tatuagem: “Eu sinto que ela é uma pessoa extremamente leve e verdadeira, é como se conhecesse ela, mesmo sem conhecer. Minhas `Eras` preferidas são a ‘Reputation’ e a ‘Lover’, eu tenho até uma tatuagem representando as duas. Eu amo a ‘Reputation’ porque ela é carregada de sentimentos, ela trás amor, frustração, raiva e paixão de uma forma muito intensa e que consigo me relacionar”.
Igor continua: “O álbum ‘Lover’, para mim, é o complemento do ‘Reputation’, é a leveza que vem após tirarmos de dentro tudo que estamos sentindo. São músicas que me fazem querer dançar, sem medo de ser julgado, e que me deixam leve e com vontade de me apaixonar”.
Quando questionado sobre as expectativas para o show, não poderia ser diferente: “Contando os minutos, desde julho. Chorando sempre que lembro que finalmente vou ver ela ao vivo, mas ainda sem acreditar que realmente está chegando, que finalmente vamos ter Taylor Swift no Brasil”, comenta.
Expectativas a mil, assim como outra fã da Taylor, a nutricionista Andréa Araújo: “A expectativa é gigante! São anos sendo fã e várias turnês que queria ter ido e visto pessoalmente, mas nunca tinha a oportunidade no Brasil. Ao mesmo tempo, que parece que está tão perto, eu nem sei se caiu a ficha ainda. Muito ansiosa para viver esse momento, principalmente ao lado de amigas que conheci através da nossa admiração por ela”, conta,
Além da forte admiração por Taylor, sua obra gera conforto e identificação: “A verdade que ela passa através de cada música. Muito mais do que pensam dela escrever sobre relacionamentos, a Taylor sempre transcreve o que ela sente e pensa. Por isso, em muitos momentos da minha vida, me identifiquei e usei alguma música dela como conforto de alguma forma”, conta Andréa.
Infelizmente, muitos fãs não conseguiram ingressos. E não foi só no Brasil, nos EUA viralizou no TikTok vídeos de fãs que também não conseguiram ingressos e iam para o lado de fora dos estádios ouvir e cantar as músicas. Além disso, no início de novembro estreia no Brasil o filme da The Eras Tour, filme-concerto que promete transportar, até os fãs que não conseguiram ingressos, para o show dentro da turnê.