Reinaldo Glioche
A relação entre plataformas de streaming, gravadoras e artistas é pautada por ruídos e estranhamentos, principalmente em virtude dos modelos de remuneração vigentes. É neste contexto que a Universal Music e Deezer propõe uma possível disrupção.
As duas empresas anunciaram o lançamento de um novo modelo de streaming que prioriza e recompensa melhor os artistas e músicas mais populares. Inicialmente lançado na França durante o último trimestre de 2023, o modelo será posteriormente expandido para outros mercados como parte de uma parceria entre as empresas.
Este novo modelo, chamado de “Artist-Centric”, foi desenvolvido com base na análise de dados das duas empresas, com o objetivo de garantir uma remuneração que reflita de forma mais precisa o relacionamento entre os fãs e seus artistas favoritos. O lançamento faz parte, anota a Deezer em seu blog oficial, do reconhecimento de que o modelo atual de streaming de música, apesar de ter sido um dos avanços tecnológicos mais significativos para o mercado da música nos últimos anos, precisa ser redesenhado.
Os destaques do “artist-centric”:
- Foco nos Artistas: Oferece incentivos adicionais para “artistas profissionais” com um mínimo de 1000 streams por mês de um mínimo de 500 ouvintes, recompensando-os de maneira mais justa.
- Recompensa por Engajamento: Valoriza músicas com alto engajamento dos fãs, reduzindo o impacto dos algoritmos na programação.
- Desmonetização de Conteúdo Não-Artístico: Cria uma nova categoria para conteúdo não-artístico que não será incluída na distribuição de royalties.
- Antifraude: Mantém um sistema de detecção de fraudes rigoroso para proteger os direitos autorais dos artistas.
“O objetivo do modelo que prioriza o artista é mitigar dinâmicas que ameaçam afogar a música em um mar de ruído e garantir que estejamos apoiando e recompensando os artistas da melhor forma em todas as fases de suas carreiras, quer tenham 1000 fãs, 100 mil ou 100 milhões”, observa Michael Nash, diretor digital da Universal Music.
Esse ajuste de rota se dá muito pelo fato de que a monetização do conteúdo está desigual nas plataformas. Na Deezer, por exemplo, 97% de todos os uploaders no app representam apenas 2% de todos os streams. Enquanto apenas 2% de todos os uploaders – artistas que atraem uma base constante de fãs – tiveram mais de 1.000 ouvintes únicos por mês. A ideia, claro, também é incentivar que artistas estimulem seus fãs a gerarem mais engajamento na plataforma.
Os dados da Deezer mostram que os artistas ouvidos por novos assinantes no primeiro mês podem representar de 25% a 30% das reproduções destes usuários nos primeiros dois anos de uso da plataforma. Existe, portanto, um potencial tremendo de valorização para todos os envolvidos nesse ecossistema musical. A ver como o impacto dessa novidade irá repercutir no mercado da música em geral.