Redação Culturize-se
O BRICS – um bloco econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – convidou seis novas nações a se juntarem a ele na quinta-feira (24), encerrando com sucesso uma cúpula de três dias em Joanesburgo, na África do Sul. A partir de 1º de janeiro de 2024, Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos poderão adicionar a filiação ao BRICS em seus currículos.
A decisão é histórica para a organização que reúne nações emergentes, solidificando-a ainda mais como um contrapeso às instituições dominadas pelo Ocidente, como o G7, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, e abrindo caminho para uma possível expansão futura. “O BRICS embarcou em um novo capítulo em seu esforço para construir um mundo que seja justo, inclusivo e próspero”, disse o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.
Mas por que essas seis nações foram escolhidas entre as mais de 40 que demonstraram interesse em aderir ao bloco? O Brasil sob Bolsonaro era resistente à ideia de expansão e encontrava amparo na Índia. A lógica era que a ampliação poderia enfraquecer o poder do BRICS e prejudicar seus próprios laços com os Estados Unidos.
A chegada de Lula, que chegou até a defender moeda comum do bloco, e a inclusão de nações como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita mudou esse panorama. Ambos os países do Golfo Pérsico são parceiros próximos de Washington e abrigam tropas dos EUA em seus territórios. Ao adicioná-los ao BRICS, o bloco demonstraria que o sentimento anti-americano não é necessário para se juntar à aliança, ao mesmo tempo em que se opõe à influência ocidental no Golfo. A Arábia Saudita ainda não confirmou se se juntará ao bloco, dizendo que deseja aguardar mais detalhes sobre o que a filiação pode exigir.
BRICS 2.0
A adesão da Arábia Saudita seria significativa de outras maneiras também. Com Riade se juntando ao BRICS, o bloco abrigaria o maior exportador de petróleo do mundo, bem como seu maior importador de petróleo, a China, e outro importante membro da OPEP+, a Rússia. Isso provavelmente levaria a uma maior cooperação em decisões de produção de petróleo que poderiam impactar enormemente o mercado global.
Mas só porque o BRICS pode estar adicionando duas nações amigáveis aos EUA não significa que está desistindo de seus objetivos de atuar como uma barreira contra o Ocidente. O Irã é um forte adversário dos Estados Unidos, algo que não está disposto a mudar tão cedo. A adesão ao BRICS diminui o isolamento global do Irã e, assim, aumenta sua influência contra os Estados Unidos em futuras negociações que possa ter com Washington, como no caso do programa nuclear de Teerã.
Entre os aspirantes a membros do BRICS, o maior interesse veio do continente africano, pois Estados Unidos, Rússia e China competem por uma posição lá. Para o BRICS, garantir a filiação do Egito e da Etiópia diminui a influência ocidental em uma região cada vez mais voltada para Pequim em busca de auxílio econômico e Moscou para acordos de armas. Ambos os países também se beneficiariam da política de não interferência do BRICS, proporcionando cobertura política para seus governos em meio a acusações de abusos de direitos humanos.
Por fim, há a Argentina, o único país latino-americano a receber um convite de filiação. Buenos Aires espera que o apoio do BRICS por meio do seu Banco de Desenvolvimento New Development Bank impulsione a crise fiscal crescente do país, especialmente à medida que a Argentina sofre com reservas em dólares dos EUA em declínio. O bloco passou grande parte da cúpula discutindo maneiras de apoiar as economias de países em desenvolvimento, como o uso de moedas domésticas e do yuan chinês em vez do dólar no comércio.