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Conheça Arape Malik, o comunicador de quebrada

Por Sonia Maria

Em novembro do ano passado, o primeiro post no TikTok de Arape como Comunicador de Quebrada viralizou, com 125 mil visualizações em menos de 24 horas. Assim mesmo, da noite para o dia – sem divulgação, sem patrocínio, sem histórico de influencer. Mas o que atrai centenas de milhares de pessoas para seus vídeos? Sede de informação de qualidade, vinda de uma profunda pesquisa sobre os temas, e uma linha de raciocínio que tem surpreendido quem acessa os conteúdos de Malik. Como aconteceu com um acadêmico francês especialista em Brasil ao assistir “Cota Racial – é boa ou é ruim?”, que disse nunca ter se dado conta dos fatos históricos apontados por Malik.

Hoje Malik soma cerca de 170 mil seguidores em suas redes sociais, e ostenta mais de 8 milhões de visualizações. Mas, quem é ele? Arape Malik já nasceu com uma história pra contar.

Ao longo de seus 35 anos, soma aprendizados e talentos. É músico, produtor musical, escritor e criador, que naquele 2 de novembro de 2022 tornou-se, também, um Comunicador de Quebrada.

Fotos: Divulgação

Um pouco antes desta data, Malik atendeu o pedido de um amigo para explicar “um papo de política que eu tinha lido”, como ele mesmo conta. “Aí, tentei falar pra ele do jeito mais simples que dava, usando referências da própria Quebrada”. Após a explicação, o amigo disse: “C* cachorro! Nunca tinha visto esse papo desse jeito… Aí, mano, grava um vídeo disso aí pra eu poder mandar pros moleques lá na Sul”. E assim fez Malik, sem pretensão alguma …

Seus vídeos passeiam por temas educativos como: “Existe Racismo Reverso?”, “Negro ou Preto?”, passando por escavações arqueológicas de nos deixar no chão: o que tem de errado com as bonecas namoradeiras?. E outros ligados ao nosso entretenimento reverso, como o produzido em parceria com @cortesph sobre a história dos atores negros na televisão brasileira e ligações impensáveis por trás do ovo de Páscoa.

Muito pode-se dizer desse crescimento relâmpado de Malik: seu jeito direto e suave, seu carisma cativante, seu humor, sua inteligência, seu fruto enraizado na profunda pesquisa sobre cada tema, tornando seus conteúdos ricos em informações históricas, muitas que não aparecem nos livros e que nos deixam boquiabertos.

O início da jornada

Arape Malik chega, também, mas ainda não apenas, para realizar seu papel de Educomunicador, de “Comunicador de Quebrada”, levando letramento sociocultural-político ao abordar matérias que, sim, são do interesse de milhares e mesmo milhões de pessoas, a quem até hoje a mídia tradicional não conseguiu alcançar, como as das Quebradas, e mesmo suas próprias, as potenciais, como confirmam perfis que seguem, assistem, comentam e compartilham os conteúdos de Malik.

Arape Malik é ainda músico e escritor. Sua família nasceu em Caetité, interior da Bahia e veio para São Paulo, fugindo da seca que abateu a região nos anos 70 e 80.

Arape é o mais velho entre seis irmãos, nascido na Pedreira, na favela do abacateiro, Zona Sul de SP. Seus pais se conheceram no grupo de teatro da escola Tabacow, um grupo improvável, formado em um contexto de muita miséria e necessidades.

Arape conta que aos 6 anos de idade morava em uma casa sem portas e janelas, onde não havia geladeira e televisão, mas repleta de livros e discos.

Foi alfabetizado por sua mãe aos três anos de idade, pois ela acreditava que a Cultura era o único caminho para livrar seus filhos da violência tão intensa e presente na Zona Sul de São Paulo.

Tentando afastar os filhos da violência de gangues, quando Arape tinha 10 anos sua mãe resolveu se mudar para um bairro um pouco menos violento – Itaquera, na Zona Leste de São Paulo.

Foi lá que Arape conheceu o hip-hop. Foi lá também que ganhou seu nome artístico, uma corruptela de Arapé, do Tupi-Guarani, que significa “caminho de luz”, nome, também, de um curandeiro do bairro, e que os amigos achavam era parecido com Arape.

Lá, começou a compor seus primeiros raps aos 10 anos, formando aos 11 seu primeiro grupo, inspirado nos Racionais MCs.

O amor pela música fez com que Arape se inscrevesse em um curso de iniciação musical, promovido por uma igreja evangélica da Quebrada.

Aos 14, começou a produzir suas primeiras batidas e a ficar conhecido na cena do hip-hop local.

A música como janela para o mundo

Três anos depois, integrou o coletivo “Liberdade Assistida”, um grupo do bairro paulistano de São Mateus (Zona Leste), que ganhou a primeira edição no lendário “Festival de Novos Talentos”, do DJ QAP, o MPC ENVENENADA, e que rendeu matéria publicada na revista Rap Brasil, a mais importante do gênero na época.

A partir daí, o grupo começou a fazer shows por todo o Brasil, inclusive abrindo para grandes grupos daquele momento, como Consciência Humana, Expressão Ativa, Império ZO, entre outros.

Aos 19, Arape fundou, com um amigo, o estúdio Park Dom Beatz, em uma sala-depósito no centro de São Paulo. Por lá passaram nomes como Recayd Mob e Glória Groove.

Seguindo o exemplo dos pais, Arape sempre esteve envolvido com as lutas políticas do Movimento Negro, militando em organizações como a Educafro e o movimento hip-hop.

Nessa época, começa a escrever crônicas e poesias sobre as vivências nas Quebadas de São Paulo, e a se apresentar em saraus e slams por toda a cidade.

Em 2017, já como artista solo, produziu e gravou seus primeiros singles, que misturam o hip-hop com várias vertentes da música brasileira e da música negra internacional.

Esses singles levaram Arape para shows de abertura de artistas como Ed Motta, Serial Funkers, UltraSoul e Ellen Oleria, e renderam uma matéria de duas páginas na Revista Raça, a mais importante publicação da cultura negra no País. O texto compara Arape a artistas como Criolo, Emicida e Rael.

E, como contado aqui, em novembro de 2022 nasce, também, o comunicador social ou, como ele mesmo nomeia, Comunicador de Quebrada.

Usando como plataforma o TiK ToK, Arape começou a falar sobre política em vídeos, com a intenção de informar e alertar os amigos das Quebradas sobre a situação atual do país.

Arape Malik segue produzindo vídeos para a plataforma e promete, para 2023, o lançamento de um EP, com músicas inéditas, além de um livro de crônicas e poesias.

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