Longa foca no começo da adolescência de uma menina em meio a tumultos inerentes dessa fase tão peculiar
Por Reinaldo Glioche
O principal papel de Abby Ryder Fortson, de apenas 15 anos, tinha como seu principal papel na carreira a filha do protagonista de “Homem-Formiga”, mas o olhar sobre ela muda a partir de “Are You There God? It´s me, Margaret.”, o segundo filme de Kelly Fremon Craig, uma comédia dramática que foca nos sabores e dissabores do começo da adolescência.
Craig já havia abordado o tema no ótimo “Quase 18”, protagonizado por Haillee Steinfield em 2016, mas agora refina o olhar acrescentando dilemas mais complexos como rupturas familiar-religiosas e a ansiedade pela paradigmática menstruação.
A cineasta de 42 anos é uma voz tão pertinente na nova comédia americana que o filme ganhou a chancela de James L. Brooks, de “Os Simpsons”, “Melhor é Impossível” e “Laços de Ternura”, que serve como produtor e um indicativo de que vale prestar atenção na carreira de Craig.
Margaret (Abby) se convulsiona com a perspectiva de mudar de cidade e ter que criar novos laços e rotina. Soma-se a essa circunstância a tensão velada sobre qual religião seguir. Sua mãe, papel de Rachel McAdams, é católica, enquanto seu pai, vivido por Benny Safdie, judeu. Eles se decidiram por não exercer qualquer tipo de influência sobre Margaret na questão, mas a vida não é tão simples quanto nossos planos para ela.
Para um trabalho escolar, ela opta por estudar as crenças religiosas das pessoas, na esperança de resolver a questão de sua própria religião durante o processo. Parte de seu estudo envolve frequentar diferentes locais de culto para compreender melhor as práticas religiosas e também para ver se alguma delas poderia ser adequada para ela.
O trabalho escolar acaba por fustigar antigas feridas, já que seus avós maternos, algo que ela não sabia, cortaram laços com sua mãe por conta da decisão dela de constituir família com um judeu.
As resoluções de “Are You There God? It´s me, Margaret” são convencionais e inofensivas, mas a jornada até lá é preciosa. Os atores, especialmente os mirins, estão em ótima forma – outro mérito de Craig que precisa ser reconhecido – e adornam um filme que se incumbe de mostrar que nunca é cedo demais para um salto de fé nos percalços do crescimento.