Terceiro disco com regravações do início da carreira chega com seis inéditas e autoridade de quem entende a própria melancolia
Por Reinaldo Glioche
Essa foi uma semana agitada para a cultura pop e soa natural que ela chegue ao fim com Taylor Swift dominando as conversas. O ator Ryan Reynolds anunciou sua chegada ao Threads com uma bem sacada referência ao disco de Taylor Swift lançado nesta sexta-feira (7). “Speak Now (Taylor´s Version)” é composto por 22 faixas, sendo seis delas inéditas.
O gesto dimensiona não só o tamanho de Taylor Swift na cultura pop atual, mas como sua música ultrapassa barreiras instransponíveis para outros popstars contemporâneos.
“Speak Now” foi lançado em outubro de 2010, sendo o terceiro álbum de estúdio de Taylor Swift. O disco recebeu vários prêmios e chegou a ser indicado ao Grammy de Melhor Álbum Country. Entre os sucessos do álbum estão músicas como “Back To December”, “Mine” e “Mean”.
A regravação chega um ano depois de “Midnights”, álbum de inéditas, considerado por Culturize-se o melhor de 2022. A cantora norte-americana lançou as regravações dos álbuns “Fearless” e “Red” em 2021. Ela ainda deve lançar as regravações de “1989”, “Reputation” e do autointitulado “Taylor Swift”.
Ou seja, os seis primeiros álbuns de sua carreira vão ganhar nova versão. Por quê? Porque um empresário comprou os direitos das gravações em 2019 em uma negociação que a deixou surpresa e frustrada.
Antropofagia musical
É muito comum no cinema vermos as famigeradas versões do diretor, mas o que Taylor Swift está propondo com essas regravações é algo totalmente novo, potente e bem-vindo. Ela, inclusive, recompõe a si mesma, como no caso da letra de “Better Than Revenge”, feita por ocasião do término do namoro com Joe Jonas.
De “She’s better known for the things that she does on the mattress” (“Ela é mais conhecida pelas coisas que faz no colchão”, em tradução direta) ficou exatamente assim “He was a moth to the flame, she was holding the matches” (“Ele era uma mariposa guiada pela chama, ela estava segurando os fósforos”).
É a poesia da existência no flagra mais ritualístico que a arte pode proporcionar. Taylor entende que é oportuno extrair um pouco do ressentimento que talvez tenha aplicado à composição e nem por isso renuncia a sua beleza.
Válido registrar que “Better Than Revenge” é seguida pela filosófica – quase budista – “Innocent”, na qual Swift observa que “A vida é uma plateia difícil/Trinta e dois anos e ainda crescendo agora”.
Swift tinha de fato 32 anos quando regravou essas palavras, mas a força elemental e a dor latente que tornaram o álbum original “Speak Now” tão notável permanece surpreendentemente intacta. A angústia ferida diante dos tormentos adolescentes e dos blogueiros amargurados em “Mean” ainda pica tão intensamente quanto outrora.
Taylor Swift se reconstrói com ternura, ampliando seu legado artístico e possibilidades autorais. Nesse quesito, uma das faixas novas, “Castles Crumbling”, dueto com Hayley Williams, vocalista do Paramore, se destaca. Pungente, a canção é um lamento autêntico que demonstra o quão consciente – e até certo ponto confortável – Taylor Swift está com sua melancolia.