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“A Garota do Oeste” ganha suntuosa montagem brasileira em São Paulo

Um dos pontos principais da montagem é reconhecer a influência da ópera no cinema. Espetáculo será encenado em seis noites, no mês de julho, no Theatro Municipal de São Paulo

Redação Culturize-se

Baseada na peça “The Girl of the Golden West” de David Belasco, um famoso melodrama que ajudou a moldar o imaginário sobre o Velho Oeste e influenciou até mesmo o gênero western no cinema hollywoodiano, “La Fanciulla Del West” (A Garota do Oeste) é uma ópera do compositor italiano Giacomo Puccini, com libreto de Guelfo Civinini e Carlo Zangarini. Dividida em três atos, teve sua estreia em 1910 na Metropolitan Opera House, em Nova Iorque. Em São Paulo, a produção contará com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico Municipal, sendo encenada de 14 a 22 de julho, com duração de 170 minutos, incluindo um intervalo de 20 minutos, e ingressos com preços que variam de R$12 a R$ 158 (inteira).

“A Garota do Oeste” narra a história de Minnie, proprietária de um saloon no Oeste dos Estados Unidos. Ambientada durante a corrida do ouro, Minnie se torna o centro de uma trama que envolve amor, coragem e traição. Em um cenário inóspito de um campo de mineradores, onde bandidos, trabalhadores oprimidos e um xerife cruel se encontram, a personagem feminina central vivencia questões como amor, saudade, justiça e, por fim, perdão. Musicalmente, esta é uma das óperas tardias de Puccini, repleta de inspiração, na qual ele utiliza diversos motivos rítmicos e melódicos que remetem ao ethos do faroeste americano, amplamente conhecido, principalmente através do cinema.

Cena da montagem norte-americana de “La Fanciulla Del West” | Foto: Reprodução/The New York Times

A montagem será dirigida e regida por Roberto Minczuk, com direção cênica de Carla Camurati. O figurino será assinado por Ronaldo Fraga, trazendo uma mescla entre o estilo da época do Velho Oeste e algumas referências mais modernistas e regionais brasileiras. Renato Theobaldo será responsável pela cenografia, Wagner Pinto pelo design de luz, e Ronaldo Zero atuará como assistente de direção. No elenco, nos dias 14, 16, 19 e 22, teremos Martina Serafin interpretando Minnie, Lício Bruno como Jack Rance e Gustavo Lopez Manzitti como Dick Johnson. Já nos dias 15, 18 e 21, Daniela Tabernig será Minnie, Homero Velho interpretará Jack Rance e Enrique Bravo será Dick Johnson.

Um dos pontos principais da montagem é reconhecer a influência da ópera no cinema. Ela foi adaptada para o filme “1915” dirigido por Cecil B. DeMille, e também teve versões subsequentes dirigidas por Edwin Carewe em 1923 e John Francis Dillon em 1930. Segundo Carla Camurati, o espetáculo tem uma qualidade cinematográfica muito marcante. Ela explica que não é trágico, mas sim dramático, como se Puccini estivesse fazendo um filme.

Carla Camurati tem uma conexão pessoal com o gênero western, inspirada pelo amor de seu pai por western spaghetti, que a marcou com filmes como “Duelo Ao Sol” dirigido por King Vidor e William Dieterle, e “Dólar Furado” de Giorgio Ferroni. Ela busca trazer uma abordagem alegre e pop para essa produção, diferenciando-a das montagens mais comuns. A energia vigorosa e os sentimentos de felicidade ou raiva das personagens estão diretamente relacionados a essa proposta.

A produção busca destacar a influência premonitória da ópera no gênero cinematográfico mais famoso de Hollywood, desde os figurinos de época que se misturam com referências regionais até os cenários grandiosos que retratam os canyons californianos e a estética dos saloons e minas de ouro, elementos essenciais para abordar o trabalho braçal e a exploração humana na construção da sociedade.

“La Fanciulla Del West” é uma obra influenciada pelo verismo, uma corrente literária italiana surgida entre 1875 e 1895, baseada em princípios realistas. O compositor Puccini se relacionava muito bem com essa ideia de realismo, principalmente ao retratar personagens simples, porém com questões complexas, o que ele costumava chamar de “grandes dores em pequenas almas”.

Theatro Municipal de São Paulo
Foto: Rafael Salvador

A diretora destaca que o perdão é uma questão central na trama, especialmente perdoar alguém que cometeu um crime. Puccini cria toda a dramaturgia para que a protagonista entre em conflito interno sobre qual é a coisa certa a fazer, e a personagem de Minnie apresenta isso de forma apaixonante.

Do ponto de vista musical, a ópera encomendada pelo Metropolitan Opera de Nova Iorque foi influenciada pelos compositores Claude Debussy e Richard Strauss, sem ser de forma alguma imitativa. Também há um gesto de homenagem entre o libreto e a obra de Richard Wagner, embora alguns atribuam isso mais ao enredo original da peça e afirmem que a ópera permanece essencialmente italiana.

Essa será a primeira produção brasileira de “La Fanciulla Del West”, que anteriormente foi encenada no palco do Theatro Municipal de São Paulo apenas uma vez, em 1º de outubro de 1915, por uma companhia lírica estrangeira. A diretora do Theatro Municipal, Andrea Caruso Saturnino, destaca que essa montagem brasileira da obra é um evento especial, apresentando ao público a obra que Puccini considerou sua criação favorita, em meio às comemorações do centenário de sua morte.

Com a direção de Carla Camurati, a produção traz uma pitada de arte pop, figurinos de Ronaldo Fraga e referências do Velho Oeste, transitando pelo universo cinematográfico e oferecendo ao público uma montagem criativa e divertida. A interpretação apaixonante da personagem Minnie será realizada pela renomada diva Martina Serafin e pela talentosa Daniela Tabernig, proporcionando um dos grandes momentos da temporada de óperas de 2023.

Seja para os amantes do cinema, da música clássica ou para aqueles interessados nesse período marcante da cultura estadunidense, “La Fanciulla Del West” já se configura como um evento histórico, pela oportunidade única de assistir a essa obra repleta de alegria, conflitos e aventura no palco do Theatro Municipal de São Paulo. Ingressos e mais informações aqui.

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