Reinaldo Glioche
Cineasta americano, o mais jovem a ganhar um Oscar de direção, tem em sua filmografia apenas quatro filmes, intensamente diferentes entre si, algo que pode ser tomado como prova de sua versatilidade e talento, mas há dois temas que lhe parecem essencialmente caros: o jazz e Hollywood.
Nesta coluna Play, nos ocupamos do segundo, a pretexto do lançamento recente de “Babilônia”, disponível nas plataformas digitais, talvez o maior injustiçado da temporada de premiações do início do ano. “Babilônia” não poderia ser mais diferente na forma, e até certo ponto no conteúdo, de “La La Land” (2016), o filme que valeu o Oscar a Damien Chazelle, mas ambos guardam um sentimento de amor por Hollywood, o espaço físico, o símbolo, mas também seu potencial metafísico, que desafia convenções e análises superficiais.
A bem da verdade, “La La Land” também é uma ponte com “Whiplash” (2014) no seu arranjo apaixonado do jazz, mas a ligação aqui parece mais incidental do que a supra citada.
Pontos de conexão
“Acredito que os filmes têm o poder de nos emocionar e nos fazer refletir sobre a condição humana. É por isso que procuro criar obras que provoquem uma conexão emocional com o público”, disse Chazelle em entrevista promocional durante o lançamento de “Babilônia” (uma outra entrevista em que ele fala sobre o filme pode ser vista abaixo). Seu filme mostra a opulência da Hollywood dos anos 20, mas no meio de toda a algazarra está uma melancólica crônica sobre a passagem do tempo e suas transformações inerentes – o advento do som no cinema é o eixo gravitacional aqui – e assim como em “La La Land”, a nostalgia se mostra um catalisador poderoso para os efeitos que o cineasta quer provocar.
Se “La La Land” é um musical afeito à Hollywood da era de ouro, “Babilônia” é a espiada por trás das cortinas desse espetáculo. Os filmes se irmanam, porém, no desafogo de melancolia que acomete o clímax e há até certas covalências narrativas como clipes que sugestionam a passagem do tempo.
Há, também, diferenças fundamentais que, não necessariamente de maneira involuntária, denotam a profunda admiração de Chazelle por Hollywood – ainda que por uma do passado. O filme estrelado por Brad Pitt e Margot Robbie reserva duras críticas à Hollywood, mas elas nunca surgem com descaso e cinismo, mas sim com afeto e reflexão. Já no longa capitaneado por Ryan Gosling e Emma Stone, Hollywood é uma força áurea, que adorna cenas solares e outras belamente entristecidas.
O classicismo de Damien Chazelle é renovado pela maneira moderna e urgente com que filma. As 3h10m de “Babilônia” nunca cansam, a despeito da trilha sonora quase onipresente, e o cineasta vai do frenesi à introspecção num piscar de olhos. É algo que o protagonista de “La La Land”, vivido por Gosling, apreciaria.