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Robustez, polêmicas, cinefilia e as boas apostas do Festival de Cannes em 2023

Na semana da largada do festival de cinema mais importante do mundo, Culturize-se dá uma geral no que esperar da 76ª edição

Redação Culturize-se

A 76ª edição do Festival de Cannes terá início na próxima terça-feira (16), com a presença de estrelas de Hollywood e homenagens a cineastas como Pedro Almodóvar e Martin Scorsese, além da grande expectativa gerada pelos trabalhos de diretores da Ásia e África.

O Brasil estará representado na disputa pela Palma de Ouro com o novo filme do diretor Karim Aïnouz, conhecido por obras como “A Vida Invisível” e “Madame Satã”. Ele apresentará “Firebrand”, uma coprodução internacional ambientada na Inglaterra de Henrique VIII, estrelada por Alicia Vikander e Jude Law.

Hollywood enfrenta uma greve de roteiristas que resultou no cancelamento de várias produções, o que tornará Cannes, mais do que nunca, o centro das atenções para os cinéfilos nas próximas duas semanas, de 16 a 27 de maio. O filme de abertura do evento será “Jeanne du Barry”, dirigido por Maïwenn, que também interpreta a protagonista. O astro americano Johnny Depp, que recentemente venceu uma longa batalha judicial com sua ex-esposa Amber Heard, interpreta o rei Luís XV.

Jude Law em cena de “Firebrand” | Fotos: divulgação

O júri da competição oficial será presidido pelo cineasta sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro no ano passado com o filme “Triângulo da Tristeza”.

Cannes, um rol de polêmicas e expectativas

Pela primeira vez, o Festival de Cannes exibirá um filme da Mongólia, intitulado “Hopeless”, e um do Sudão, chamado “Goodbye Julia”. Outros destaques do evento incluem o cineasta alemão Win Wenders, que terá dois filmes em duas mostras diferentes, e o diretor americano Wes Anderson, cujo filme “Asteroid City” será exibido na mostra oficial, contando com astros como Tom Hanks, Margot Robbie, Scarlett Johansson, entre outros.

Dos 21 filmes na disputa pela Palma de Ouro, sete são dirigidos por mulheres, estabelecendo um recorde para Cannes.

Nos últimos anos, a indústria cinematográfica tem sido abalada por acusações de abusos e discriminação. No entanto, desta vez, são duas diretoras francesas, Maïwenn e Catherine Corsini, que estão no centro dos escândalos. Maïwenn foi acusada de agressão por um renomado jornalista francês, Edwy Plenel, enquanto Corsini é alvo de críticas por ter dirigido uma cena de conteúdo sexual envolvendo uma atriz menor de 16 anos em seu filme “Le retour”, que está na disputa pelo prêmio máximo em Cannes.

Entre as cineastas que estão na mostra principal, temos a italiana Alice Rohrwacher, que concorre à Palma de Ouro pela terceira vez com o filme “La chimera”, e Ramata-Toulaye Sy, uma diretora franco-senegalesa de 36 anos que apresenta seu primeiro longa-metragem, intitulado “Banel et Adama”.

Homenagens e exibições especiais

A riviera francesa também será palco de atrações irresistíveis, mas fora da competição oficial. É o caso da nova animação da Pixar, “Elementos”, que encerrará o festival.

O filme mostra a Elemental City, local onde os habitantes de fogo, água, terra e ar vivem em harmonia. Uma das moradoras da cidade é Ember, uma jovem faiscante. Ela conhece o simpático, tranquilão e divertido Wade. Enquanto Ember é impetuosa, Wade faz o estilo mais sentimental e que segue o fluxo das coisas. No entanto, este encontro levará os dois a desafiar suas crenças sobre o mundo no qual eles vivem.

A nova aventura de Indiana Jones, “O Chamado do Destino”, também terá sua premiere mundial em Cannes. Assim como o novo e aguardadíssimo Scorsese, “Killers of the Flower Moon”.

O ator e produtor americano Michael Douglas, 78, vai receber uma Palma de Ouro honorária por “sua brilhante carreira e também por seu compromisso com o cinema”, observaram os organizadores do festival.

Semana da Crítica

A 62ª edição da seção paralela ocorre entre 17 e 25 de maio e exibirá 11 longas-metragens, sendo sete em competição e quatro como exibições especiais, selecionados entre 1.000 inscrições.

O pôster deste ano presta homenagem ao filme “Aftersun”, dirigido pela britânica Charlotte Welles, uma história de pai e filha que teve uma carreira premiada no circuito de festivais, e pelo qual Paul Mescal foi indicado ao Oscar de Melhor Ator.

A Semana da Crítica revisita o olhar da infância dos filmes de 2022, “Aftersun” e “Alma Viva”, em suas exibições especiais deste ano.

Na competição, o Brasil tem destaque com “Levante”, da diretora Lillah Halla; a produção acompanha uma promissora campeã adolescente de vôlei que descobre estar grávida às vésperas de um importante campeonato e enfrenta a proibição do aborto no Brasil.

Impedida em suas tentativas de buscar um aborto ilegal, o futuro da garota parece estar nas mãos de todos, exceto nas dela, até que a ajuda chega de um lugar inesperado.

O curta-metragem “Menarca”, de Halla, foi exibido na Semana da Crítica de Cannes em 2020, e “Levante” foi desenvolvido com o apoio da iniciativa “Next Step” da Semana da Crítica, que tem como objetivo auxiliar cineastas que apresentaram curtas na seção a avançar para seu primeiro longa-metragem.

Quinzena dos Realizadores

Em sua 55ª edição, a mostra apresentará 20 longas-metragens e 10 curtas-metragens. O filme “The Goldman Case”, do ator e diretor francês Cédric Kahn, abre a seleção. O drama gira em torno do julgamento de 1976 de Pierre Goldman, um revolucionário de esquerda da vida real que foi condenado por vários roubos à mão armada e posteriormente assassinado de forma misteriosa.

A grande atração, porém, promete ser outro cineasta francês. O vencedor do Oscar, Michel Gondry, com “The Book of Solutions”. A comédia-drama em língua francesa, estrelada por Pierre Niney como um cineasta lidando com um bloqueio criativo, é o primeiro longa-metragem do diretor de “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” em sete anos.

Sete filmes para ficar de olho

  • “How to Have Sex”, de Molly Manning Walker

Um Certo Olhar

“How to Have Sex” leva para as telas uma parte essencial da adolescência britânica: as férias pós-exames, que envolvem boates pegajosas, hotéis bregas e os melhores amigos que você achava que teria para a vida toda. Molly Manning Walker faz sua estreia na direção de longas-metragens, capturando as férias de uma garota em Malia, em que perder a virgindade é a prioridade absoluta. Espere uma exploração profunda da amizade britânica e da universalidade do consentimento.

  • “Kubi”, de Takeshi Kitano

Fora de competição

Existem cineastas pelos quais você simplesmente para tudo, e quando Takeshi Kitano diz que talvez não faça mais um filme após este, as prioridades mudam. Mesmo em Cannes! “Kubi” está pronto para contar a verdadeira história do Incidente Honno-ji, que levou ao assassinato do senhor da guerra Oda Nobunaga em um templo em Kyoto, em 1582.

  • “May December”, de Todd Haynes

Competição Oficial

O primeiro longa de ficção do cineasta desde o subestimado “O Preço da Verdade” (2019) é algo para se comemorar, especialmente quando Julianne Moore e Natalie Portman estão no centro da conversa. O enredo do filme segue o casal controverso formado por Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), que há 20 anos foram os protagonistas de uma polêmica que dominou os tabloides nos Estados Unidos. Com uma diferença de idade de 23 anos entre eles, o romance atraiu a atenção da mídia na época. Haynes sempre lidou com relacionamentos humanos complexos e tortuosos com sensibilidade e intensidade incomparáveis, então a adição da repórter invasiva interpretada por Portman nesse já incendiário drama psicológico nos deixa em suspense.

  • “The Feeling That the Time for Doing Something Has Passed”, de Joanna Arnow

Quinzena dos Realizadores

Depois de curtas-metragens e filmes de média duração que foram exibidos em festivais como Berlinale, Rotterdam, Nova York e outros, Joanna Arnow fará sua estreia com seu primeiro longa-metragem – que ela também escreveu, editou e estrela – na Quinzena dos Realizadores de Cannes. Com um título que parece ser o mais longo da programação de Cannes, “The Feeling That the Time for Doing Something Has Passed” acompanha uma mulher judia na faixa dos 30 anos em Nova York, que pratica a arte da submissão no quarto e também navega pelas dinâmicas de poder em outras áreas de sua vida, desde o trabalho até a família.

  • “Fallen Leaves”, de Aki Kaurismäki

Competição Oficial

Aki Kaurismäki, retorna com seu primeiro filme desde “The Other Side of Hope”, lançado em 2017. “Fallen Leaves”, com apenas 81 minutos de duração, terá sua estreia na competição. Descrito como uma “tragicomédia gentil”, o filme marca a quarta parte da quadrilogia da classe trabalhadora de Kaurismäki, seguindo “Shadows in Paradise”, “Ariel” e “The Match Factory Girl”.

  • “Zone of Interest”, de Jonathan Glazer

Competição Oficial

Passaram-se quase dez anos desde que Jonathan Glazer estreou “Sob a Pele” no Festival de Cinema de Telluride e agora o diretor inglês finalmente concluiu seu próximo projeto. “The Zone of Interest” terá sua estreia na competição em Cannes. Baseado no romance de Martin Amis ambientado em Auschwitz, o filme conta com a estrela de “Toni Erdmann”, Sandra Hüller, e Christian Friedel (“A Fita Branca”). Eis o que diz a sinopse: “O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig, se esforçam para construir uma vida de sonhos para sua família em uma casa e jardim ao lado do campo de concentração”. Com duração de 106 minutos e fotografia de Łukasz Żal (“Guerra Fria”), com Mica Levi responsável pela trilha sonora, é de se esperar mais uma odisseia angustiante do diretor.

  • “The Sweet East”, de Sean Price Williams

Quinzena dos Realizadores

Depois de reescrever grandes partes do cinema americano moderno com sua imagem granulada em 16mm, Sean Price Williams – diretor de fotografia dos Safdies, Alex Ross Perry e Abel Ferrara- finalmente estreia na direção e seu filme promete sensação no festival.  Eis a sinopse: “uma jornada pitoresca pela América contemporânea, realizada por uma jovem que tem acesso a seitas estranhas e cultos que proliferam neste país, por meio de uma série de guardiões ansiosos para conquistá-la”, e pela combinação de talentos jovens na tela (Talia Ryder, Jacob Elordi) e um redescoberto Simon Rex, que ganhou o prêmio de ator em 2021 no festival, a expectativa é alta.

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