Disco do cantor britânico está entre seus melhores trabalhos e traz canções que distanciam Ed Sheeran do algoritmo que o fez famoso
Por Reinaldo Glioche
Ed Sheeran é um dos maiores popstars do planeta, mas não é lá muito levado a sério enquanto compositor. Basta uma espiada no fofinho “Yesterday” (2019), de Danny Boyle, para entender a reticência em torno do britânico.
“Subtract”, o último de sua ‘quadrilogia matemática’, é um exercício complexo para o cantor – já que foi concebido durante uma das fases mais difíceis de sua vida -, mas fundamentalmente para seus fãs. Caracterizado por um folk acústico frequentemente triste, mas com notas de esperança ruidosamente honestas, o disco em si é uma alegoria de resiliência e, por fim, se articula como um culto à vida.
“Eu vinha trabalhando no ‘Subtract’ por uma década, tentando esculpir o álbum acústico perfeito, escrevendo e gravando centenas de músicas com uma visão clara do que eu achava que deveria ser. Então, no início de 2022, uma série de eventos mudou minha vida, minha saúde mental e, finalmente, a maneira como eu via música e arte”, disse Sheeran em comunicado à imprensa.
O luto passou a ser uma baliza criativa indesviável. “No espaço de um mês, minha esposa grávida foi informada de que ela tinha um tumor sem tratamento até depois do parto. Meu melhor amigo Jamal, um irmão para mim, morreu repentinamente e me vi ainda no tribunal defendendo minha integridade e carreira como compositor. Eu estava em um espiral de medo, depressão e ansiedade”.
O resultado de toda essa ebulição foi que Ed Sheeran trocou todo o trabalho de uma década por composições feitas no espaço de uma semana com “pensamentos mais sombrios e profundos”.
“Life Goes on”
As 14 faixas de “Subtract” funcionam dolorosa e perfeitamente em uma ouvida. Elas clamam por uma atenção condoída e é possível testemunhar uma jornada que vai do desespero à esperança muito claramente. Há muitos versos fortes em canções que marchariam muito bem como singles, além das já lançadas “Eyes Closed” e “Boat”.
É o caso de “Life Goes On”, quarta faixa do álbum, um hino às circunstâncias da batalha de sua esposa contra o câncer. “So tell me how/How our life goes on with you gone/I suppose I sink like a stone/If you leave me now/All the stumps will roll/Easy come, hard go/Then life goes on”.
Sheeran é frequentemente ridicularizado por escrever de forma prosaica, mas as letras aqui parecem focadas e dolorosamente diretas: em “End of Youth”, ele parece atormentado pela autodúvida; “Sycamore” nos leva à sala de espera do médico enquanto ele e Seaborn aguardam o diagnóstico dela.
A presença do músico do The National, Aaron Dessner talvez tenha influência nessa jornada. Dessner sabe como despir o talento para composição dos popstars de suas vestimentas radiofônicas exageradas. Sheeran é mais trovador do que popstar em “Subtract”. Um disco em que ele dá absolutamente de ombros para seus críticos e que ironicamente pode ser a senha para conquistá-los, ainda que aliene alguns de seus fãs no caminho.