Desde 2017 com Lula, a socióloga tem busca “ressignificar o papel de primeira-dama” sendo mais “pop, militante e atual”
Por Beatriz França
Quem é Rosângela? Essa foi uma pergunta feita por muitos brasileiros lá em 2017, quando o presidente Lula (na época ex) conheceu a socióloga. Conhecida como Janja, Rosângela Lula da Silva ocupa o posto de primeira-dama e teve um papel de destaque durante a campanha eleitoral de Lula em 2022.
Vinte anos mais nova que o presidente do Brasil, ela nasceu em 1966 no Paraná, em uma cidade chamada União da Vitória. Aos 17 anos, Janja se filiou ao PT e logo ingressou na faculdade de Sociologia na Universidade Federal do Paraná. Com MBA em Gestão Social e Sustentabilidade, ela também é especializada em História.
A atual primeira-dama já atuou como assistente do diretor-geral e coordenadora de programas sustentáveis, foi assessora de comunicação e relações institucionais na Eletrobras e, de acordo com a Veja, foi casada por mais de 10 anos, mas não tem filhos. “Ela é uma pessoa muito politizada, tem uma cabeça política boa e é muito feminsita”, disse Lula, em setembro de 2021 durante sua participação no podcast de Mano Brown.
Janja é vista com o oposto da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que preferia ficar fora dos holofotes. A socióloga teve destaque em diversos atos da campanha eleitoral de Luis Inácio Lula da Silva — inclusive, foi dela a ideia de reeditar o famoso jingle eleitoral de 1989, regravado por vários artistas para a atual campanha.
Essa intensa participação na campanha eleitoral de 2022 fez com que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fizesse comentários sobre o papel da mulher ser de “ajudadora do esposo”. Na época, Janja rebateu a fala durante um discurso eleitoral: “Não vou ser ‘ajudadora’, vou estar do lado, junto”.
O relacionamento de Janja e Lula
O namoro dos dois começou enquanto Lula estava preso em Curitiba e eles se comunicavam por meio de cartas. “Esperança e muito amor. Tem muitas cartas felizes e tem muitas cartas tristes, porque realmente teve momentos difíceis desses 580 dias”, disse Janja durante entrevista ao Fantástico em novembro de 2022.
Mas como começou esse relacionamento? Por mais que Janja tenha trabalhado na Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, mais de 14 anos e se encontrado com Lula algumas vezes, foi só na véspera do Natal de 2017 que eles se aproximaram. Na ocasião, cerca de 1.500 pessoas foram convidadas para a inauguração do campo de futebol “Dr. Sócrates Brasileiro”, em Guararema, em São Paulo.
O evento teve quatro jogos e um deles era o mais aguardado: Amigos de Chico Buarque x Veteranos do MST — e Lula estava no time de Chico. Ao Fantástico, Janja revelou que foi após o jogo que eles começaram a se relacionar.
De 7 de abril de 2018 até o início de novembro de 2019 o relacionamento se manteve com cartas, mensagens enviadas por amigos e apoio do lado de fora da prisão. Assim que o presidente foi solto, Janja estava na porta da prisão em Curitiba esperando por ele — onde se beijaram diante de uma multidão emocionada.
“Quero apresentar pra vocês uma pessoa de quem eu já falei, mas que nem todos conheciam. Quero apresentar minha futura companheira”, disse Lula na época.
Em abril de 2022, eles anunciaram o casamento para maio e a cerimônia foi realizada às vésperas do início da campanha eleitoral. Janja é a terceira esposa de Lula. Em 1969, ele se casou pela primeira vez com Maria de Lourdes da Silva, que morreu dois anos depois do casamento. Em 1974, ocorreu o segundo casamento do presidente com Marisa Letícia, com quem teve quatro filhos. Ela morreu em 2017 após um AVC.
A atuação de Janja no governo
Em uma publicação em seu perfil no Instagram, Janja afirmou que deseja “ressignificar o conceito de primeira-dama”. Durante a campanha, ela mostrou um pouco de como será a sua atuação no terceiro mandato de Lula. Direitos das mulheres, combate à violência contra as mulheres, combate à fome e proteção aos animais devem estar no radar da primeira-dama.
Em julho de 2022, Lula disse ao UOL que sua mulher “tem que discutir com ele, tem que aconselhar e tem que brigar com ele” nos assuntos que dizem respeito ao governo e por mais que sejam casados, ela não deve ter um ministério. “Ela [Janja] é uma jovem senhora que tem pensamento próprio, tem cabeça boa — às vezes melhor que a minha. Ela terá a liberdade de pensar o que ela quer fazer para me ajudar”, explicou ao UOL.
Ao contrário de Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e mulher de Jair Bolsonaro (ex-presidente do Brasil), e até de Marisa Silva, segunda esposa de Lula e que foi primeira-dama durante os dois primeiros mandatos do atual presidente, Janja é uma primeira-dama militante, pop, mais informal e mais ligada às questões de gênero, classe, raça e meio ambiente.
Uma análise do estilo de Janja
E existe um estilo certo de roupas para uma primeira-dama? Grace Kelly, consultora de imagem e estilo, explica que não existe um dress code para primeira-dama, mas espera-se “que o estilo comunique as causas e bandeiras que defenderá ao longo do mandato”.
Grace analisa a transição de estilo de Janja da campanha eleitoral para os dias atuais, onde ocupa o cargo de primeira-dama. Para a consultora de imagem “elegância e acessibilidade” são palavras-chave do armário da socióloga.
“Ela tem o estilo despojado e prático como base, mas transita entre o elegante e clássico. E isso ficou evidente durante a campanha eleitoral de Lula, onde usava camisetas com símbolos de mensagens e causas defendidas por ela [Janja]. Após a posse vimos uma Janja mais sofisticada, mas que manteve o conforto mesmo optando por looks mais elegantes e com cores claras”, fala em entrevista ao Culturize-se.
A consultora de imagem e estilo ainda ressalta que, para ela, não é preciso “usar um vestido super justo para mostrar feminilidade, nem um conjunto de blazer e calça em alfaiataria para mostrar a força” de uma primeira-dama.
Comparando com Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, Grace Kelly aponta que a diferença entre Janja e Michelle começa na personalidade. Enquanto a mulher do ex-presidente era mais “reservada, clássica e discreta, tanto na personalidade, quanto no estilo”, a atual primeira-dama tem um “histórico mais ativista no meio político, independente do look escolhido”.
Relembrando Marisa Silva, segunda mulher de Lula e que morreu em 2017 devido a um AVC, além da idade e do momento atual, a consultora de imagem também leva em conta a personalidade distinta de ambas. “Marisa focava em cuidar da família, uma mulher simples, discreta e que não ousava em seus looks. Janja tem o perfil completamente diferente, além de sempre se mostrar ativa politicamente, pois desde a posse mostrou que terá um papel ativo como primeira-dama”, explica.