Edson Aran
Precisamos nada. Fala sério. Que coisa mais alienada. Ninguém precisa falar sobre whisky, mas sim sobre água potável, que será o grande problema do milênio.
Você vai precisar dela para fazer gelo pro bourbon ou pra colocar algumas gotas no puro malte, liberando os aromas da bebida.
Aliás, você já reparou que todos os textos que começam com “precisamos falar sobre” é sobre coisas que a gente não precisa falar de jeito nenhum? Precisamos falar sobre isso.
Mas não hoje. Hoje a coluna é sobre whisky.
Uma coisa que me intriga (e que nunca entendi) é porque os supermercados colocam uma caixa vazia na prateleira sem a garrafa dentro.
Você leva a caixa até o caixa e tenta conseguir a garrafa que falta. A moça ou moço ou moce do caixa ou caixe manda chamar o gerente, que certamente estava dormindo em algum canto sossegado do depósito. Ele chega mal-humorado e balançando um molho de chaves. Uma das chaves, que ele nunca consegue achar de primeira, abre o incrível armário onde as garrafas de whisky estão trancafiadas para a segurança do cidadão de bem.
Ele pensa: “Por que esse cara chato não compra cerveja como todo mundo?!”
E ele pensa de forma tão intensa que você até escuta o pensamento dele.
Mas o gerente está certo. Pra quê esse trabalhão todo?
A ideia da caixa vazia e da bebida trancada vem do tempo em que os dinossauros dominavam a Terra e qualquer bebida com dois cachorrinhos no rótulo custava os olhos da cara. Isso mudou. Hoje existem cachaças muito mais caras do que um whisky, mas ninguém deixa uma garrafa vazia de “Havana” na prateleira e a pinga trancada no porão.
E as cervejas belgas com gosto de Fanta Cereja? Elas custam o preço de um puro malte, mas estão ao lado da Skol. Os vinhos franceses mais caros do que uma Bolsa-Família estão junto com o Sangue de Boi. É assim que deve ser. O mundo está muito mais globalizado e inclusivo, mas o supermercado continua whiskofóbico e perdido nos anos 90, como se fosse um político brasileiro.
Por isso, aproveito a coluna para lançar um brado alegre e retumbante: chega de intolerância supermercadal Whiskofobia não!
De qualquer forma, enquanto o preconceito persiste, decidi empreender e criar meu próprio puro malte. Vai se chamar “Old Schrödinger Scotch Whisky”.
Até que você pegue a caixa, o whisky pode ou não estar lá dentro. O modelo de negócios é simples: de cada 100 caixas, só 10 têm garrafa, garantindo alta lucratividade. Empresários, cartas para a redação do Culturize-se. Vai dar mais certo do que investir em Meta e criptomoeda, vão por mim.