Produção independente segue a cartilha de longas como “A Bruxa de Blair” e “Atividade Paranormal” e carrega seus vícios e virtudes
Por Reinaldo Glioche
Um pesadelo infantil? Uma manifestação espírita? Os últimos espasmos de um cérebro morrendo? Talvez caiba ao espectador ser juiz. Escrito e dirigido por Kyle Edward Ball e rodado com apenas U$ 15 mil, “Skinamarink: Canção de Ninar” investe na atmosfera em detrimento da narrativa.
Não há muito com o que trabalhar em termos de organização narrativa aqui. A tela permanece escura e granulada durante toda a 1h40 de projeção e vozes adultas são ouvidas a esmo e aleatoriamente. Duas crianças (abandonadas?) tentam entender o que está acontecendo. É desse fiapo de trama que “Skinamarink” se desenvolve.
Ball conta que tinha esse pesadelo, entre 6 e 10 anos, de que seus pais estavam mortos ou desaparecidos e que mais tarde percebera que este era um sonho recorrente para muitos e então resolveu fazer um filme a respeito. Nesse contexto, o longa emula a estética de um pesadelo muito em virtude do arrojado design de som e da maneira fortuita e anárquica com que as imagens se apresentam.
Todavia, a experiência eventualmente se torna enfadonha; o que leva a crer que se não um curta, o filme talvez se beneficiasse da longitude de um média metragem. O frisson nas redes sociais desde que estreou em festivais de gênero no 2º semestre de 2022, no entanto, viabiliza comercialmente o longa.
“Skinamarink” se resolve como uma experiência algo hermética, despudoradamente original no desapreço pelas convenções de gênero, e especialmente pusilânime para quem se sente incomodado no escuro.