A questão de gênero

Edson Aran

A questão de gênero é um dos grandes dilemas do século 21. O tema divide opiniões e causa polêmica, o que é compreensível. Antes a coisa era bem mais simples e todo mundo sabia claramente o quê era o quê. Agora, não. É uma bagunça. Você entra na Netflix em busca de “drama”, “comédia” ou “ficção-científica” e o que é que encontra? Hein?

“Filmes com mulheres fortes”.

Ora, isso não é gênero.

Em “Filmes com mulheres fortes” cabe desde “Super Xuxa contra o Baixo-Astral” (1988) até “A Malvada” (All about Eve, 1950). E no meio ainda dá pra encaixar “Alien – O Oitavo Passageiro” (Alien, 1979), “Central do Brasil” (1998) e “Desejo e Reparação” (Atonement, 2007). Todos esses filmes têm “mulheres fortes”, mas Bette Davis e Fernanda Montenegro nunca enfrentaram alienígenas com as paquitas. Olha, eu gostaria de ver isso… mas essa é outra história. Foco, foco.

Os gêneros existem para organizar a vida do pobre espectador e não para marqueteiro exercitar a criatividade que não tem. Por exemplo: “Homens armados que resolvem desentendimentos com armas de fogo no século 19” é “western”. Pronto, acabou. É mais econômico e todo mundo entende o que é. Na mesma linha, “Nações em conflito devido a problemas fronteiriços” pode ser resumido como, hmmm… vejamos… “Guerra”. Não é mais fácil?

Dentro do gênero “Guerra” podem existir filmes bastante diferentes. Alguns podem ser apologéticos: “O mais longo dos dias” (The Longest Day, 1962) ou “Os Boinas Verdes” (The Green Berets, 1968).  Outros, pacifistas: “Nada de novo no front”( All quiet on the western front, 2022) e “Ardil 22” (Catch 22, 1970). E uns poucos são até surrealistas: (“Apocalypse Now”, 1979) e “Bastardos Inglórios” (Inglorious Bastardes, 2009). Mas todos têm uma característica em comum: homens uniformizados trocando tiros para defender um trapo que eles chamam de bandeira.

Se o homem defende o trapo, mas está sem camisa, aí é filme do Sylvester Stallone, não tem erro.

Outra coisa: “Filme Nacional” não é gênero, é designação de origem, igual vinho. A bebida pode ser feita no Chile, mas um Cabernet não é um Carmenère e um Chardonnay não é um Sauvignon Blanc. Em “Filme Nacional” pode ter “Tropa de Elite” (2007) do Padilha e “O Grande Xerife” (1972) do Mazzaropi. Pode ter “Lula, o filho do Brasil” (2009) e “O que é isso, companheiro?” (1997). Pode ter “Marighella” (2021) e “As Cangaceiras Eróticas” (1974). Pode ter “A Dama do Lotação” (1978) e “Que horas ela volta?” (2015). Tudo o que o pobre assinante da Disney Plus, Paramount Plus, Star Plus, Netflix Plus, Hbo Max Plus, Etc Plus deseja é escolher um bom filme, se sentar no sofá e assistir. Nada mais. É muito divertido inventar “gêneros” que não existem, tipo “Filmes para adultos com idade mental de 10 anos”. Mas escreve “Super-Heróis” que é mais simples.

Deixe um comentário