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O biquíni brasileiro está maior?

Por Gabriela Mendonça

Divulgação

Nascido em 1946, o biquíni surgiu como uma bomba. Até seu nome faz referência ao Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, onde eram feitos testes de bombas nucleares. Seu efeito foi imediato. Os conservadores tacharam de inapropriado, modelos não queriam usar nas passarelas, seu uso foi censurado em diversos países nos anos seguintes. 

Mas não durou muito, e logo as duas pequenas peças, criadas para cobrir apenas o essencial, dominaram o mundo, e o imaginário coletivo. Brigitte Bardot aderiu ao modelo em pleno festival de Cannes. Ava Gardner, Dolores Del Río, Rita Hayworth, todas contribuíram para que esse fenômeno ganhasse força. 

Em 1962, o biquíni fazia sua estreia nos cinemas junto com James Bond em “007 Contra o Satânico Dr. No”, eternizando-se como um dos grandes momentos do cinema.

De bolinha amarela, tão pequenininho

Ele pode ter sido inventado na Europa, mas o biquíni foi tão incorporado ao Brasil, que parece até invenção nossa. É impossível, hoje, não associar o biquíni às brasileiras, pois aqui ele ganhou novas formas, e um novo tamanho, ainda menor. 

Eternizado pela Garota de Ipanema Helô Pinheiro, pelas vedetes, por Gal Costa e Leila Diniz, o traje de banho fez do Brasil sua casa, e aqui criou raiz. Foi em terras brasileiras que surgiu o modelo cortininha e com amarração lateral, além da famosa versão fio dental, popularizada nos anos 1980. Mas, de “tão pequenininho”, o biquíni tem se transformado, e chega a 2023 com muitos tamanhos, e mais tecido. 

“Eu acredito muito na moda como marcador social, pois reflete as mudanças das pessoas. E a relação do corpo feminino, da mulher com seu corpo mudou muito. Uma parcela da sociedade mudou como vê o corpo da mulher”, comenta Juliana Oliveira, a Juliipreta. 

Influencer e consultora de moda, Juliana não acha que o biquíni está maior, mas sim mais democrático. “Antigamente só tinha um formato de biquíni feito para um tipo de corpo”, complementa.

Em um país tropical, ficar longe da peça não parece uma opção, e novas marcas passaram a desenvolver modelos mais abrangentes, que saem do formato cortininha, e incluem mais tamanhos. É o caso da Vênus Atômica, marca carioca criada por Luciana Brasil em 2018. 

“A Vênus surgiu de uma demanda pessoal minha enquanto mulher gorda, de me ver representada como igual pela moda, de ter peças com tendências atuais pensadas para corpos como o meu, da mesma forma como elas sempre são pensadas para os corpos magros”, explica Luciana.

Biquíni da marca Santo Sol: mais democrático | Divulgação

Mais corpos

Os biquínis de cortininha ficam, mas agora são maiores, para caber em corpos GG, EG, EGG. “Na hora de desenvolver as coleções eu penso muito no conforto, na escolha dos materiais, na modelagem, no vestir. A peça tem que vestir bem em corpos diferentes, por isso todas elas são provadas e aprovadas em dois extremos de corpos diferentes: 1 P e 1 GG, a partir daí é feita a graduação dos outros tamanhos”, explica Luciana. 

A ideia não é tornar o biquíni maior para cobrir mais corpo, e sim para cobrir mais tipos de corpos. Assim, as versões de amarrar andam ao lado com as hot pants, sutiãs meia taça, tricô, cintura alta, asa delta e muitos outros. 

Até porque, é do Brasil que saem as maiores novidades envolvendo moda praia. E são as marcas menores e independentes, que surgiram em grande número nos últimos anos, que ajudam nessa construção mais democrática. 

“O fato de ousar realmente assusta e se torna um grande desafio, ainda mais para marcas mais tradicionais e antigas”, acredita Lívia Ferreira, criadora da Santo Sol. Da mesma forma que a Vênus, Lívia também sentia falta de encontrar tamanhos maiores e modelos modernos, e foi assim que surgiu sua marca. 

Mais do que isso, não ampliar a numeração e permitir um acesso mais amplo pode ser cafona. É o que pensa Luciana: “existe ainda uma tradição de mercado, ultrapassada na minha opinião, de manter tamanhos restritos para corpos restritos, é quase como essas marcas que dissessem sem dizer: aqui você não cabe”. 

O que as confecções menores, como a Vênus e a Santo Sol estão tentando dizer é o oposto: “seja bem-vinda, fique à vontade”. “O biquíni sempre foi uma peça icônica, muito ligado ao movimento de emancipação da mulher na sociedade, um caminho de busca pela liberdade de usar o que ela quiser”, completa Luciana. 

Mais do que um biquíni

Juliana, porém, não acredita que esse seja o único motivo para essas novidades na modelagem. Para ela, existe outro movimento forte, transformando o biquíni em uma peça que não está mais limitada à praia. 

“Vejo que as marcas de moda transformaram o biquíni em algo além. Modelos com manga, short, como se o biquíni fizesse parte de uma composição no guarda-roupa para além de ir à praia”, explica. 

O fato de alguns modelos de biquíni hoje serem maiores, para ela, está mais relacionado a essa tendência, que permite que a peça seja usada em situações sociais. “Acho que as marcas de beachwear pegaram esse lance de ter um biquíni que, depois da praia, pode sair com uma amiga para um barzinho, algo do tipo”, complementa. 

Com isso, as modelagens extrapolam os estilos mais clássicos e básicos e, às vezes, isso também significa mais pano. O biquíni, assim como a moda, está sempre se transformando. Os modelos pequenos seguem em alta, mas agora são acompanhados de outros formatos e estilos, que englobam mais mulheres. 

Uma coisa é certa: para saber as tendências do biquíni, é só olhar para as nossas praias. “O biquíni brasileiro é e sempre vai ser referência para o mundo”, conclui Luciana.

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