Novo longa de Sarah Polley, que ostenta duas indicações ao Oscar 2023 (filme e roteiro adaptado) vai além da sororidade ao ruminar sobre circunstâncias do enfrentamento da rigidez patriarcal
Por Reinaldo Glioche
Logo no início de “Entre Mulheres”, longa escrito e dirigido por Sarah Polley a partir do romance homônimo de Miriam Toews, um aviso surge para o público. “O que vem a seguir é um exercício de imaginação feminina”. Existe, por fim, a disposição de refletir sobre as condições hostis reservadas às mulheres em uma organização social, aqui um microcosmo de uma comunidade religiosa isolada, e de como reagir a elas.
“Entre Mulheres” é um filme desenvolvido por meio de diálogos, muitos deles de matiz filosófica que buscam amparo na disposição da audiência de participar do debate ensejado pelo filme. A verve teatral e o rubor do roteiro tornam a experiência um tanto estática. Polley não consegue dinamizar uma trama que parece confinada mais às ideias do que às ações.
Acompanhamos um grupo de mulheres dessa referida comunidade religiosa que depois de suportarem sucessivas agressões morais, físicas e sexuais e serem instigadas a perdoar seus agressores resolvem confabular a respeito de como dar um basta naquelas circunstâncias. Fugir? Lutar? As conversas arranham soluções, descartam outras, avaliam o que as levou a tal situação e vislumbram futuros possíveis.
O elenco é irregular na admoestação de um texto de tons agudos e cadência lenta, mas encontra grandes respiros na presença crepuscular de Frances McDormand, na condução elegante de Rooney Mara, quem irriga filosoficamente o longa, e Jessie Buckley, seu centro emocional.
No limiar, faltam predicados à produção para justificar sua presença na lista dos indicados a Melhor Filme no Oscar 2023. A leitura é de que lá está por conta de seu tema importante e do que representa em uma indústria que, sob muitas perspectivas, mimetiza tudo aquilo que “Entre Mulheres” aborda.