Reinaldo Glioche
É cada vez mais raro aquela circunstância em que você bate os olhos em um filme e pode decifrar quem é seu diretor. Seja pela organização narrativa, pelo apuro visual ou pela obsessão temática. Tim Burton, Quentin Tarantino, irmãos Coen e David Cronenberg são alguns exemplos que resistem. O filho deste último, Brandon Cronenberg, já merece vaga nessa lista.
Com 43 anos e três longas no currículo, não dá para dizer que Brandon Cronenberg é um novato, mas é patente que seu cinema é dotado de uma energia, tão caótica quanto criativa, que faz muito bem nesse momento em que o cinema se mostra confortavelmente anestesiado.
Não à toa, seu seu mais recente filme, “Infinity Pool”, causou sensação no último festival de Sundance. O longa estrelado por Alexander Skarsgärd e Mia Goth já estreou nos cinemas e on demand nos EUA, mas segue sem distribuição no Brasil.
“Infinity Pool” é um delírio com violência gore e erotismo pulsante que propõe uma reflexão desconcertante sobre os efeitos da imortalidade no contexto da desigualdade social, mas também sobre a moral, ego e outras tantas idiossincrasias.
Brandon Cronenberg filma tudo isso com urgência, rigor estético e apelo visual. Seu cinema, assim como o do seu pai, versa sobre o body horror e abraça uma ficção científica mais devassa, suja e imperfeita. É um cinema que não parece capaz, tampouco disposto, a exceder os limites do cinema indie e é inevitável reconhecer nesta característica parte de seu indissociável charme.
“Infinity Pool”, entretanto, é mais refinado visualmente e tarimbado narrativamente do que os dois primeiros longas de Brandon Cronenberg, “Possessor” (2020) e “Antiviral” (2012). Uma demonstração de um cineasta em franca evolução e que, nem por isso, se mostra inclinado a prescindir de suas convicções.