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Antes da parceria com Tim Burton, Danny Elfman teve um passado na new wave dos anos 80

Tom Leão

Há diretores, cujos filmes estão intrinsicamente ligados à pessoa que compôs a trilha sonora destes. É assim, por exemplo, com Bernard Herrmann. Sua parceria com Hitchcock, nos deu temas marcantes, que reconhecemos à primeira nota musical. Como os para “Um corpo que cai” (1958) e “Psicose” (1961), só para citar os dois mais marcantes. Mais forte ainda, é a ligação que há entre John Williams e Steven Spielberg. Desde “Tubarão” (1975), passando pelos “Indiana Jones”, “A lista de Schindler”, e muitos Oscars. Tanto que, mesmo após ter anunciado sua aposentadoria, Williams abriu exceção para a trilha do novo indiana Jones. E fim.

Tim Burton e Danny Elfman em ação | Foto: Divulgação/Disney

Nesta mesma linha, está a conexão que há entre Tim Burton e Danny Elfman. Diria que, a ligação que há entre estes, é a mais forte de todas. Já que, ambos, são apreciadores do surreal, do sombrio, do diferente, esquisito. Danny e Burton é o casamento perfeito que há entre imagem e som. Assim como Angelo Badalamenti soube dar clima aos sonhos de David Lynch.

 Já se percebia isso, antes mesmo de os dois (Tim e Danny) trabalharem juntos, pelo background de Elfman. Egresso de uma banda performática/teatral de Los Angeles, The Mystics Knights of the Oingo Boingo – junto com seu irmão, Richard Elfman (diretor do bizarro ‘Forbidden zone’, 1980), Danny sempre curtiu esse clima, que lembra o expressionismo alemão, as festas mexicanas do Dia dos Mortos, e os monstros da Universal.

 Por isso, quando Elfman assinou a sua primeira trilha para Burton, a de “Pee-Wee´s big adventure” (1985), não tinha mais volta. E, foi assim, por quase todos os filmes que Burton dirigiu depois: do primeiro “Batman” a “Peixe Grande”, de “Edward Scissorhands” à série de TV “Wandinha”, nada diz mais ‘Tim Burton!’, do que uma trilha assinada por Danny Elfman.

Mas, como dizíamos, Elfman saiu do grupo performático/teatral de seu irmão, e levou a banda com ele, reduzindo o nome apenas para Oingo Boingo. Assim, ele criou um dos grupos mais originais e interessantes da new wave americana dos anos 80, com a qual lançou oito álbuns, sendo os três primeiros, um reflexo de seus tempos anteriores, com letras mais sombrias e estranhas, e com uma performance vocal perto da teatral. Basta ouvir músicas como “Nothing bad ever happens to me”, “Private life” ou “Nothing to fear”, cujos clips, ainda utilizam do visual expressionista-surreal dos tempos do Mystic Knights.

Na transição do alternativo para o, digamos, mais pop, Elfman e Oingo Boingo adentraram pelo visual da festa mexicana do Dia de Los Muertos (cheio de cores e caveiras) e passaram a fazer canções mais ‘palatáveis’. O que os levou, enfim, ao sucesso internacional. E possibilitou que viessem ao Brasil (uma única vez) e tivessem até música em trilha de novela aqui, “Stay”.

Danny Elfman se apresenta na edição de 2022 do Coachella | Foto: reprodução/Rolling Stone

 Daí, o inquieto Elfman cansou, a banda se desfez, ele teve uma breve carreira solo (que, ainda mantem, eventualmente) e, quando parecia que tudo tinha findado, ele se reinventou como ‘trilheiro’, graças ao click que teve com Tim Burton (com uma forcinha de Paul Reubens, o Pee-Wee Herman, que apresentou um ao outro). Pouco antes disso, ainda com o Boingo, ele obteve sucesso com a música-tema do filme “Mulher nota mil” (‘Weird science’, 1985), que foi sucesso nas danceterias.

Contudo, Elfman não foi exclusivo de Burton. Também compôs trilhas para Gus van Sant e Sam Raimi (claro!) e foi indicado quatro vezes ao Oscar, embora nunca tenha ganhado nenhuma estatueta. Também nunca ganhou Golden Globes, só Emmys (dois, por seu trabalho no tema dos Simpsons). Tanto faz. Segue com sua carreira, compondo para cinema, TV, projetos solos; e, uma vez por ano, no Halloween, faz um concerto no Hollywood Bowl, em Los Angeles, com a trilha de “A Nightmare Before Christmas” e outros sucessos sombrios. Taí uma coisa que queria muito ver um dia. Já vi o Boingo em L.A., no começo. Mas, este concerto, ainda está na minha lista.  Então, só podemos desejar a Daniel Robert Elfman (que é judeu e casado com a atriz Bridget Fonda) muitos anos de vida, já que ele emplacará 70 anos em maio. Mazel Tov!

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