Por Laisa Lima
Casamentos nem sempre são como nos contos de fadas; decidir se unir a alguém até que a morte os separe não é tarefa fácil. Porém, os seres humanos, embora criados de maneira individual, são incentivados desde os primórdios a achar a metade de suas laranjas. E, segundo o ditado popular, todos um dia a encontrarão. Seja em meio a brigas, a exemplo de “Recém-Casados” (2003), ou a canções de amor estilo “Mamma Mia” (2008), essa busca é um ótimo pano de fundo para histórias inesquecíveis; o cinema, nada bobo, incutiu isso quase igual uma fórmula. A obra mais recente a usufruir de seus benefícios, aliás, chama-se “Casamento Armado”, dirigido por Jason Moore. Porém, será que esta receita de bolo funciona unanimemente?
Darcy (Jennifer Lopez) e Tom (Josh Duhamel) são apaixonados um pelo outro. A fim de realizarem o sonho de juntar-se nos papéis de marido e mulher, o casal parte para uma ilha remota nas Filipinas, onde planejam uma grande festa de comemoração ao lado dos convidados, que incluem suas peculiares famílias. Entretanto, o sentimento que paira em ambos é o de incerteza – o que só cresceu diante da falta de rumo da celebração. E vai piorar. No dia seguinte, criminosos invadem o hotel onde estavam os requisitados para o casório, fazendo-os de refém, menos Darcy e Tom. Ao passo que os ditos piratas amedrontam os sequestrados, os cônjuges assistem tudo de camarote, visto que, na hora do crime, estavam em meio a uma discussão. O enredo se desenrola, então, em cima das estratégias boladas para salvarem seus entes.
Primeiramente, trata-se de um filme quase exclusivamente de comédia. O apagamento do destaque concentrado na carga dramática é aceitável, dado que seu teor é destinado aos constantes motivos de riso. Todavia, para proporcioná-lo, nem que seja de canto de boca, é preciso fazer rir. Em “Casamento Armado”, os momentos de comicidade ocorrem a partir das estereotipias do gênero, tornando a inventividade um adjetivo longe de ser associado à produção. Ainda que tais clichês funcionem como garantia quando não há mais o que ser explorado, é necessária a elaboração pelo menos do contexto para que as cenas sejam, de fato, engraçadas. Aqui, os inúmeros lugares cômodos, tais quais a trilha sonora convencional e as piadas, permitem que a sensação de “mais do mesmo” circunde o pensamento do público.
Diante da proposta do longa-metragem, ser reconhecível não é um problema. A quantidade de narrativas similares é extensa, e elaborar um enredo totalmente inovador, nestas circunstâncias, é digno de uma mente brilhante. Como é demais pedir essa capacidade quase sobre-humana, compreender as limitações do cenário é o mínimo. Levando em consideração este tipo de empatia, amenizar as falhas de “Casamento Armado” seria cabível. Porém, a linha tênue entre limite e insuficiência é ultrapassada ao assistirmos um entretenimento preguiçoso, cuja história parece irreal demais até para o universo cinematográfico. A conexão com a realidade é um passo para a anexação do espectador, por mais grotesca que seja a sequência, mas a escassez de preocupação com essa parte é o motivo da semelhança com um teatro forçadamente cômico, onde todos parecem imaturos e bobos ao extremo.
Sem motivação externa razoável, os personagens do filme agem conforme um comando extradiegético, mesmo que suas atitudes contenham um fundo desconexo com os próprios temperamentos. A vontade de seguir o roteiro e fazer dar certo é notória, porém em quais condições? Deixando de lado uma breve congruência, as ações de seus integrantes rumam ao que precisa ser feito para dar continuidade à trama. Seus guias, por sua vez, apesar da dedicação, carregam caricaturas custosas de serem digeridas. A frequentemente noiva Jennifer Lopez, por exemplo, é o tipo de protagonista que pouco se sabe além da infantilidade e da predileção por vestidos largos. O marido, interpretado por Josh Duhamel, é igualmente um indivíduo sem muito carisma. Até a brasileira Sônia Braga, mãe de Darcy, não possui espaço para uma atuação mais encorpada. Jennifer Coolidge, um nome de peso na comédia, também traz em mãos um texto que não a favorece.
Jason Moore chefia a obra, uma produção da Amazon, com pulsos estagnados, em que os diálogos expositivos concretizam um prelúdio do que está por vir e a narrativa se destrincha de acordo com o roteiro a qualquer custo, mesmo que isso signifique o afastamento do sentido para com o todo. Optando por acontecimentos que não convencem, abrangendo os comportamentos dos sequestrados – aparentemente em uma colônia de férias – e os vislumbres de sensibilização aleatórios, o cineasta deixa escapar o bom tom da categoria fílmica em que o filme é enquadrado, restando somente tiradas sem naturalidade e explosões e tiros com a função de amedrontar.
“Casamento Armado” simboliza uma reunião de partículas cômicas que funcionam de modo brando. Priorizando fixamente o roteiro e menosprezando o ligamento com a realidade do espectador, ainda que de maneira longínqua, o longa-metragem não surpreende, não empolga e, principalmente, oferece poucas oportunidades de risadas genuínas. Embora o hilariante esteja no campo da subjetividade de cada um, a obra apresenta ocorrências imaginativamente precárias, desfocando a atenção da comicidade e voltando para as deficiências do enredo. Por isso, caso esteja pensando em casar, não se determine por “Casamento Armado”; é cilada pensar que o matrimônio é reduzido não ao divertimento, mas só a convenções.