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Querem cancelar o modernismo

Edson Aran

Você já reparou que o Brasil entrou numas de implicar com a Semana de 22? A pancadaria começou ano passado, nos 100 anos do evento, mas prosseguiu em 2023 com o lançamento de novos livros.

Os autores devem ter pedido o prazo da gráfica, só pode.

Vai longe o tempo em que o Tropicalismo festejava a Antropofagia, o Cinema Novo filmava “Macunaíma” e os Poetas Concretos enalteciam os micro-poemas do Oswald de Andrade.

Agora é só paulada.

O processo é parecido com o lance dos bandeirantes, que foram de heróis desbravadores a serial killers da Mata Atlântica.

“Jason Tavares Voorhees, a seu dispor, Vossa Mercê”.

Mas os modernistas, coitados, não matavam ninguém, só queriam fazer rimas e pintar gente com pezão.  

E, se possível, livrar a literatura brasileira

do ranço parnasiano,

do discurso pomposo,

da prosa academicista,

do lado doutor,

da pretensão paquidérmica,

do gênio que adora ser incompreendido.

Deu certo?

Deu não, sinhá, deu não.

A reação dura 100 anos e vai continuar por outros 100, 200, 300.

Existem basicamente dois grupos anti-modernistas que eu batizei de “biscoitistas” e “pomposistas”. Vou explicar.

OS BISCOITISTAS

Quase chamei os “biscoitistas” de “ruy-castristas”, mas seria uma sacanagem com o Ruy Castro, um cara que gosto e admiro muito. Somos ambos mineiros e essa briga nem é nossa, inclusive.

No caso, a luta anti-modernista é só mais uma batalha da tradicional guerra do “bishcoito versus bolancham”.

Uma bobagem bairrista.

O Rio de Janeiro tem Machado de Assis, tem Lima Barreto, tem Millôr, tem o Pasquim, tem Noel Rosa, tem Paulinho da Viola, tem Tim Maia, tem a Bossa Nova e tem mais um monte de coisa legal, mas não tem a Semana de 22, desculpa.

Aí começa esse nhenhenhém de desconstruir o modernismo, especialmente o Mário e o Oswald.

Aê, sangue bom, olha só, tinha coisa muito mais moderna no mundo, sabia?

Sabia. Todo mundo sabia.

Enquanto os paulistas defendiam verso livre no Teatro Municipal, o alemão Hugo Ball fazia poemas fonéticos no Cabaret Voltaire. Mas é assim mesmo. Cada país tem a vanguarda que merece, mano. Quando é 2023 na Europa é exatamente 1964 no Brasil, sabia não?

OS POMPOSISTAS

Os “pomposistas” são piores que os “biscoitistas”.

Bem piores.

Horrivelmente piores.

Porque são os mesmos parnasianos de sempre, tentando reverter a linguagem à pompa e circunstância d’antanho.

Os “pomposistas” gostam mesmo é da caretíssima “Geração de 30” que se resume, basicamente, a gente andando feito barata tonta e reclamando da seca.

“Será que chove, compadre?”

“Ah, chove nada, vou escrever um poemão ou tentar emprego na Sudene, um dos dois…”

Ah, tenha dó.

Tenha paciência.

Sou muito mais Oswald e Pagu que eram comunistas de verdade, mas sempre souberam que a irreverência vem antes da militância.

Tupi or not tupi. That’s still the question, caraíba. That’s still the question.

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