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Crime e castigo no audiovisual brasileiro

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Por Laisa Lima

Quem nunca entrou em choque ao saber de um crime? Quem nunca se perguntou como aquilo era possível? Por esta e outras indagações, o gênero “true crime” cresceu e ganhou o público. 

Trata-se de uma produção que relata uma violação, uma ruptura, ainda que com núcleos ficcionais, percorrendo a mentalidade do criminoso, da(s) vítima(s) e o contexto ao seu redor.

Fotos: divulgação

A história deve conter obrigatoriamente, então, um delito grave e conturbado a ponto de seu destrinchar ser de interesse público, o suficiente para elaborar uma narrativa completa. “Acredito que o fã das produções “true crime” quer se envolver de uma maneira mais íntima, praticamente entrando na trama, e o suspense presente no roteiro possibilita essa aproximação entre público e história.” diz Paulo Pacheco, colunista do Observatório da TV.

Como grande potência comunicadora, a TV aberta deu um empurrão capaz de impulsionar a vontade do brasileiro de construir séries em cima dos mais diversos crimes. 

Inicialmente abordado em uma novela da emissora Record – que conseguiu superar a audiência tradicional do futebol às quartas-feiras -, denominada “Vidas Opostas” (2006), a tendência de crescimento dos programas voltados para crimes hediondos retornou. “Lei e Crime” (2009) é de fato a primeira série a ser reconhecida como parte da categoria “true crime”, dando star a uma referência que o canal concorrente investiria pesado.

“Força-Tarefa” (2009/11), “Na Forma da Lei” (2010) e “Dupla Identidade” (2014) são alguns exemplos de séries globais neste formato.

Jonathan Pereira, colunista de TV e Streaming do Culturize-se, ressalta que “outros programas policiais na grade da TV foram alimentando esse interesse, como o “Linha Direta”, na Globo, e os próprios telejornais policialescos, como Cidade Alerta e Balanço Geral, na Record, e Brasil Urgente, na Band. Com tantas horas diárias no ar, ajudaram a formar um público interessado no universo do crime”.

A jornalista Gisele Alquas reforça a relevância do “Linha Direta”, programa exibido pela Rede Globo e que volta ao ar em 2023, como formador dessa paixão nacional por fatos criminais. “Todo mundo esperava o Linha Direta para ver o que ia acontecer. Então acho que foi um dos precursores para a gente saber sobre esses crimes reais”.

A apropriação pelo streaming

Para Paulo, devido ao intuito dos streamings de fixar o espectador em frente à tela, séries deste tipo são confeccionadas para maratonar, já que o enredo incita a permanência do público para a descoberta dos mistérios. 

Alcançando uma nova onda, os documentários baseados em crimes reais, especialmente produzidos com mais afinco pelo Globoplay (casos Flordelis, Evandro, Marielle Franco etc.) e Netflix (casos João de Deus, Elize Matsunaga, Evandro Ramos etc.), também entram no hall de obras que abarcam não apenas assassinatos acontecidos no Brasil, mas também todo tipo de infrações em solo nacional que estarreçam quem está assistindo. 

Marcelo Melo Jr em cena da série “Arcanjo renegado” | Globoplay/divulgação

Para Gisele Alquas, o que mais instiga nesta categoria é saber os motivos pelos quais o assassino (ou assassinos) cometeram o crime. Ela cita a série da Netflix “Bom Dia, Verônica” como um exemplo da intenção de capturar o bandido, fonte, segundo ela, tanto de atenção quanto de tensão. 

Mas existe algum crime que capture o espectador de maneira sem escapatória?
Segundo Jonathan, a resposta está em apostar na realidade, visto que a memória do espectador o fará reviver o momento, gerando, assim, uma dúvida de como aquilo será interpretado. O colunista também menciona a atualidade como trunfo; em “Arcanjo Renegado”, seriado do Globoplay, são observadas características do Brasil de hoje, tais quais a presença de milícias e da corrupção, agregando valor à representação no programa.

Dando predileção sempre aos crimes nacionais, o brasileiro tende a se conectar mais profundamente com o que já foi consumado. Paulo chama a atenção para três casos que transformaram-se em produções audiovisuais que obtiveram grande repercussão: o de Flordelis, Eliza Matsunaga e o da atriz assassinada Daniella Perez, estre último em exibição na HBO MAX. E analisa: “Coincidentemente, três produções sobre mulheres, sejam vítimas sejam condenadas. Quando a principal vítima ou a principal suspeita é uma mulher, parece atrair mais o público brasileiro, e aí entra o fator machista, com os espectadores julgando-as com argumentos morais para decidir de qual lado da história eles ficam”.

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