Como homenagem ao leitor em gesto de despedida de 2022, um ano de adeus e recomeços, Culturize-se disponibiliza a newsletter produzida pela jornalista Jéssica Stuque para os assinantes e membros do Clube Culturize-se, que propõe uma troca de afagos musicada entre grandes nomes da música brasileira que partiram no ano
Para essa retrospectiva, propusemos um exercício de imaginação e saudade. E se a cada um deles fosse dada a tarefa de escolher uma canção do seu próprio repertório para homenagear o outro? Quais canções seriam essas?
Longe de qualquer pretensão de acertar quais seriam os reais palpites, mergulhamos nesse vasto universo musical como mero exercício (inclusive vale ressaltar aqui que as falas dos personagens são fictícias). E te convidamos a fazer o mesmo.
De Gal para Elza
Dada a missão, Gal não se conteve e criou logo um pout-pouri. “Uma música é pouco para homenagear Elza. Todas as músicas são poucas para homenagear Elza”, pensou ela. Juntou três: uma lembrança, uma exaltação e uma de tocar o coração.
Começou pela lembrança: PercPan de 1996. Uma memória afetiva que ainda vibra na alma. “Elza estava de branco, eu de preto com lenço vermelho na cabeça”, resgata a musa da Tropicália. Dançaram e cantaram abraçadas, no maior festival de música percussiva do Brasil.
Que menina é aquela?
Que menina é aquela que entrou na roda agora?
Ela tem um remelexo que, valha-me Deus, Nossa Senhora!
Ela mexe com as cadeiras que, valha-me Deus, Nossa Senhora!
Elza na verdade nem parece que foi menina, sempre foi mulher. Mulher de carne, mulher de fibra, mulher do fim do mundo, mulher Maria. Sobe o morro sem perder a imensidão e graça de rainha. Por isso, Gal lhe dedica:
Lá vai ela
Lá vai a mulher subindo
A ponta do pé tocando ainda o chão
Já na imensidão
É lindo
Ela em plena mulher
Brilhando no poço de tempo que abriu-se
Ao rés de seu ser de mulher
Que se abriu
Sem ter que morrer
Todo homem viu
E finaliza seu pout-pourri com este trecho que lhe cabe perfeitamente:
Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
De Elza para Erasmo
lluminada pela linda homenagem feita por Gal, Elza logo se prontificou: “Eu quero cantar! Eu quero cantar!”.
Apesar da fama de mau, ela não ficou na dúvida. Já estava com a língua afiada pra dedicar ao amigo Erasmo o samba composto por ele, mas que ela também gravou. Afinal, “o roqueiro também sabe balançar”, gargalhou.
Moço, toque balanço
Toque balanço, moço, se não eu não danço
Porque o balanço faz ficar
Com a cabeça fora do lugar
Quando a rodada de twist se acabar
Eu vou pedir pra orquestra mudar
Então vou falar: Moço, toque balanço
De Erasmo para Gal e Elza
Balanço que ele retribuiu e não conseguiu deixar de homenagear ambas as musas. À soteropolitana, deu detalhes da love song que cantaram juntos:
Não adianta nem tentar me esquecer, viu
Não, não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida eu vou viver
Não, não adianta nem tentar me esquecer
E à rainha carioca, só poderia que dizem ser de sexo frágil, “mas que absurdo”, cantou:
Sei que a força está com elas
Vejam como é forte a que eu conheço
Sua sapiência não tem preço
(…)
Mulher! Mulher!
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um 10
Sou forte, mas não chego aos seus pés
Nosso festival musical imaginário se encerra, mas Erasmo segue compondo, Gal se inspira com azul do céu divino maravilhoso e Elza segue cantando até o fim.