Em alta no País, formato se firma como polo de formação de opinião e espaço para debate de ideias e novas possibilidades
Por Beatriz França
Ouvir podcast é uma nova forma das pessoas e, principalmente, dos brasileiros se informarem e se divertirem. Um estudo realizado em 2022 pela plataforma CupomValido.com.br, com dados do IBOPE e Statista, mostrou que o Brasil é o terceiro país que mais ouve podcast no mundo, ficando atrás apenas da Suécia e Irlanda.
De acordo com a pesquisa, mais de 40% dos brasileiros escutaram podcast pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. E esse dado não é pra menos, é possível notarmos o aumento de programas que estão sendo lançados no YouTube e Spotify. Influenciadores, veículos e profissionais de comunicação, e tantas outras pessoas têm apostado no formato para atrair o público.
Gigi Grandin, especialista em marketing de influência na Grapa Digital, reforça que a popularidade do formato podcast se dá pelo simples fato de ser um “meio de comunicação de nicho”, ou seja, um espaço onde as pessoas vão achar assuntos de interesse. Por exemplo, o Não Inviabilize, apresentado pela Déia Freitas, é um espaço para contos e crônicas, e um “laboratório de histórias reais”.
“Hoje ele [podcast] é mais um canal de proximidade com pessoas e assuntos que você já se identifica, onde você tem acesso a opinião de várias pessoas sobre o mesmo assunto”, explica Gigi Grandin.
Scheila Sanntos e Bebbel Rendeiro são as vozes do PowerCast, programa onde empreendedores e especialistas em diferentes áreas e ramos são convidados para debater sobre experiências que carregam em suas bagagens.
“Vimos a necessidade de falar sobre o empreendedorismo. Notamos que os empreendedores em si às vezes não sabem dos processos e sofrem muito pra chegar até lá. O PowerCast é para acrescentar na vida das pessoas que empreendem. A intenção é trazer conteúdo em um formato que as pessoas consigam aprender na prática”, conta Scheila Sanntos.
Ketley Paixão e Beatriz Lomeu, mais conhecida como Blo, são as criadoras do podcast Fanfica Aí, onde as duas jovens falam sobre casos da vida, relembram as famosas fanfics e conversam com convidados. De um jeito leve e descontraído, as jornalistas sonhavam com o tão sonhado momento de lançamento do programa.
“Conversando sobre nossas expectativas no universo da comunicação, ficamos jogando ideias de fazer algo junto. Abraçamos isso muito rápido, nos empolgamos em organizar a casinha e, hoje, estamos ampliando tudo o que estava previsto para o início do Fanfica Aí”, conta Ketley Paixão, host do podcast.
Viciada em podcast, assim como sua parceira do programa, Ketley fala sobre o ‘boom’ da podosfera (como é chamado o universo de podcasts). “É interessante ver como o consumo de determinado formato de entretenimento se renova para atender o público e a podosfera é um desses. As histórias que costumamos ouvir eram exibidas pelas rádios e agora estão a um clique de nossas mãos”, fala.
Para Gigi Grandi, especialista em marketing de influência, o podcast “com certeza é uma nova forma de se informar e com informações que nenhuma outra rede é capaz de trazer”. Ela acredita que o sucesso dos programas é um conjunto da obra: ser nichado, trazer histórias exclusivas e abrir um espaço para conversa.
“Acontece que o público se sente mais próximo dessas pessoas que estão lá, pois os assuntos são abordados de forma mais profunda, abrindo para uma discussão ampla”, explica.
Déborah Abrahão, jornalista e especialista em comunicação digital, acredita que o podcast está em plena expansão por ser um produto fácil de consumir e de produzir, e aposta no crescimento deste tipo de conteúdo. “O mercado se profissionalizou, empresas estão buscando esse tipo de conteúdo e apostando nessa forma de se comunicar. Ele [podcast] tem uma interatividade grande com as redes sociais e podemos projetar um crescimento muito maior para o podcast em alguns anos”, diz.
Voz do podcast A Escola Manda Notícia, que ganhou o prêmio SindiJor PR em 2015 no Paraná, e do programa Nós não somos isso, vencedor do Prêmio Jornalístico Político Ricardo Boechat em 2020, Déborah acredita que são muitos fatores que levam o podcast a se tornar um conteúdo de influência no dia a dia, mas o principal é a ‘quebra de barreira’ entre o host e convidado com o ouvinte ou telespectador (no caso de videocast).
“As pessoas estavam acostumadas com entrevistas mais formais e o podcast chega para quebrar essa barreira, porque você vê uma pessoa normal conversando, sem tantos filtros. E isso devido a interatividade, pois o público está acostumado com essa horizontalidade de consumir, influenciar na produção, discutir sobre o assunto e divulgar. Então esses aspectos fazem com que se torne cada vez mais impactante”, aponta.
O podcast como um companheiro no dia a dia
O jornalista Lucas Fractal é um consumidor assíduo de podcasts desde 2018. Por mais que tenha sido fisgado por esse tipo de conteúdo, nem sempre foi assim. No começo, quando ainda estudava, ele não via como algo tão promissor, mas isso mudou.
“Comecei a ouvir podcasts por causa do Spotify, né? E o que me levou a consumir esse tipo de programa foi perceber que se tratava de um conteúdo diferente. Não era rádio e nem algo que copiava a televisão. Pelo menos, os podcasts que eu ouço, tratam os temas com profundidade”, fala.
Lucas assume que é fã de podcasts que abordam história da primeira e segunda guerra mundial, história do Brasil, política e, os tão amados, true crime: “Escuto bastante e organizo minha agenda para fazer coisas ouvindo podcast, seja uma tarefa em casa ou para treinar”.
O vício do brasileiro em ‘true crime’
Não é novidade que o brasileiro gosta de ouvir uma história cheia de camadas para ser descoberta, não é mesmo? Durante o ano de 2022, Chico Felitti foi responsável por contar uma das histórias mais ‘bizarras’: A mulher da casa abandonada. O podcast ganhou o gosto do público e foi assunto nas redes sociais, televisão e portais de notícias por meses.
Outro podcast que tem o carinho do público nesse mesmo nicho é o Modus Operandi, apresentado por Carol Moreira e Mabê Bonafé, e conta a história de uma grupo de escoteiros que estava fazendo trilha no Pico dos Marins, em 1985, quando um deles, Marco Aurélio, desapareceu. O público gostou tanto dessa história que virou até livro, com o mesmo título, publicado pela Intrínseca.
“Acho que o interesse por programas de crimes reais não é uma característica apenas do podcast, pois é possível notarmos uma grande produção de séries, filmes, documentários e até o próprio Linha Direta. O podcast só trouxe isso para uma conversa mais aberta, pois já era um interesse das pessoas antes mesmo de ganhar espaço no formato”, explica Deborah Abrahão.
Podcast é o novo rádio?
Ao contrário do que muitos acreditam, Gigi Grandi não acha que o podcast será um novo rádio. Para a especialista em marketing de influência, este tipo de programa funciona muito “mais como um canal de comunicação do que um meio de comunicação, para acessar informações diversas”.
“Acredito que o rádio continua tendo seu lugar, que é muito definido e um espaço cativo que eu não acredito que vá perder essa posição. Na verdade, os programas de rádio tem o podcast como mais uma forma de se conectar com o público”, fala.
A Rádio Eldorado, do jornal O Estado de S. Paulo, é a prova viva disso. Sintonizada na estação 107,3 FM e com uma programação diária, o podcast faz parte da estratégia da rádio de um dos maiores jornais de São Paulo e é uma forma de alcançar mais pessoas. No Spotify, por exemplo, é possível acompanhar alguns assuntos da rádio em formato de podcast: Fim de Tarde, Colunistas, Check-in e Dois Pontos.
Lucas Fractal endossa a fala de Gigi Grandi e concorda que o podcast não é um novo rádio. Para o jornalista, este tipo de programa “não tem intenção de tomar esse lugar devido ao formato ‘meio e mensagem’ e muito menos pelo contexto de mercado”.
“A rádio dá a sensação de ser pela publicidade, já o podcast nasce de uma cultura de criadores de conteúdo. A existência do podcast é genuína por si só. Claro que alguns players conseguem patrocínio e viabilizar isso, mas não é regra. Os programas na ‘podosfera’ já nasceram de forma independente e o patrocínio é consequência, diferente da rádio que demanda esse tipo de relacionamento com marcas”, explica o jornalista.