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Privilégio branco é um fantasma a ser exorcizado em “Armageddon Time”

Novo filme de James Gray une comentário social a memórias em um exercício narrativo que se perde entre o afeto e a crítica

Por Reinaldo Glioche

Cineasta cultuado, James Gray se volta ao passado para alertar sobre o futuro sombrio à frente. Se volta mais especificamente a seu passado. “Armageddon Time”, título emprestado do medo dominante na última década da guerra fria, remonta algumas de suas memórias de infância e pré-adolescente como um judeu em Nova York enquanto organiza um comentário social sobre conflitos étnicos e privilégio branco.

O longa acompanha a amizade do introspectivo Paul (Banks Repetta), um menino branco de família rica que estuda em escola pública, com Johnny (Jaylin Webb), um menino negro que mora com a avó adoentada e cada vez mais impaciente com as micro agressões de seu cotidiano.

Paul quer ser artista e tem uma relação muito amorosa com seu avô (Anthony Hopkins), o celeiro financeiro de uma família que tem seus focos de tensão, já que Irving (Jeremy Strong), pai de Paul e marido de Esther (Anne Hathaway), vem de família pobre. O ponto de vista é sempre o de Paul, que também tem seus atritos com o irmão mais velho, Ted (Ryan Sell), a esperança do pai, que estuda em escola particular e prestigiada.

A direção de Gray, embora elegante, se mostra hesitante na elaboração dos conflitos, que nunca tangenciam suas possibilidades. O drama jamais chega ao clímax e o personagem de Johnny mais parece um arquétipo, o que depõe contra a própria proposta do filme. A ideia de observar o privilégio branco em uma estrutura de filme de amadurecimento, o chamado coming of age, é salutar, mas a execução se não é protocolar, surge pouco inspirada.

É Anthony Hopkins, com seu ar cansado, mas de disposição exuberante, quem oxigena “Armageddon Time”. Quando em cena, seu personagem irradia aquilo que Gray ambiciona movimentar com seu filme: reflexão tenra, esperança nutrida pela arte e pelo afeto. Mas são apenas lapsos, pequenas promessas, de um longa cheio de boas intenções, mas que perece ao julgar que apenas elas seriam capazes de sustentá-lo.

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