Tom Leão
No dia 5 de novembro de 1975, uma banda chamada Bazooka Joe (nome tirado de um famoso chiclete de bola), se apresentaria na Saint Martins School of Art, em Londres. Um de seus integrantes era Stuart Goddard, que, pouco tempo depois, passaria a se chamar Adam Ant e formaria a banda Adam & The Antz (no inicio, com z). Na filipeta do show, dizia apenas que haveria uma banda de abertura. Pois bem, a banda, que sequer teve seu nome grafado na filipeta, era o Sex Pistols, que faria o seu primeiro show e mudaria a história do rock.
Hoje, a tradicional escola de arte, fundada em 1854 (e por onde passaram vários outros nomes da música, moda e atuação tão distintos, como a cantora Sade e o ator Pierce Brosnan, além do próprio Adam Ant) não existe mais, com este nome (funcionou assim até 1989). A escola foi absorvida por outra, maior, a Central School of Art and Design, e mudou de nome, se chamando agora Central Saint Martins College of Art and Design. Mas, na porta de seu prédio, na famosa Charing Cross Road (onde passei diversas vezes em meus périplos londrinos) está uma placa lembrando a data. Ela diz: sex pistols first gig. November 6th 1975 ‘unplugged’.
A palavra ‘unplugged’ está entre aspas, porque, durante o caótico show da banda (que nem tinha repertório próprio e tocou apenas clássicos do rock´n´roll), durou apenas cinco músicas, até que alguém da escola fosse lá desplugar as tomadas e cabos e acabasse com o show. Simbólico. Foi o caos do punk contra a arte estabelecida. Aliás, eles só conseguiram o show, porque, na época, o baixista Glen Matlock (depois substituído por Sid Vicious), estudava lá.
Reza a lenda que a interrupção do show não se deu apenas pelo som barulhento. Mas, pela atitude do vocalista John Lydon (aka Johnny Rotten), que, trajado com uma camiseta do Pink Floyd com a palavra ‘I hate’ (eu odeio) pintada por cima, falou muito palavrão, destratou a escola e cuspiu na plateia. O que ele sempre faria dali em diante. Naquele momento, o que menos interessava era a música. Foi um momento de ruptura.
O show na Saint Martins foi simbólico não só por isso. Foi lá, também, que a banda se apresentou, pela primeira vez, usando o nome Sex Pistols (cunhado pelo empresário Malcolm Mclaren e Johnny Rotten, que batia ponto na loja de mm, a sex, que vendia roupas sado-masoquistas estilizadas), já que, como banda em si, incluindo os integrantes originais (Paul Cook, Steve Jones, Glen Matlock e, depois, John Lydon), ela já existia, usando nomes como The Strand e The Swankers, entre outros). O Pink Floyd, embora extinto, segue vendendo discos. Mas, os Pistols, sacudiram o rock de forma definitiva.
Cerca de dois anos depois da data do primeiro show, o Sex Pistols lançou o seu primeiro e único álbum oficial, Never Mind the Bollocks, Here´s the Sex Pistols, em 27 de outubro de 1977, pela então pequena gravadora Virgin Records, depois de darem o cano (e pegarem a grana) de grandes gravadoras, como a A&M (que teve de destruir toda a prensagem do compacto com ‘God Save the Queen’, por quebra de contrato) e EMI, por onde acabaram lançando o compacto com a clássica ‘god save the queen’, para combinar com o jubileu da rainha e ‘causar’.
Se, musicalmente, era um disco de rock´n´roll (sem o punch punk que viria depois), é inegavel a força de suas 12 faixas. Entre elas, o hino ‘Anarchy in the UK’, a auto-indulgente ‘Pretty Vacant’ e a bela sacaneada na gravadora, ‘E.M.I.’, que fecha o disco. Nunca mais veremos algo assim na música. Destroy!