Nova York implementa pedágio urbano e resgata polêmica da medida já considerada no Brasil

Redação Culturize-se

A cobrança de pedágios urbanos é uma medida cada vez mais adotada por grandes cidades ao redor do mundo como forma de enfrentar os desafios da mobilidade urbana e da poluição. No último domingo (5), Nova York implementou um programa de tarifação de congestionamento em Manhattan, região central da cidade, com o objetivo de reduzir o tráfego, diminuir as emissões de gases poluentes e arrecadar fundos para melhorar a infraestrutura de transporte público. A experiência nova-iorquina, no entanto, está longe de ser unânime e reflete um debate global sobre os benefícios e as controvérsias do pedágio urbano.

Foto: Reprodução/TripAdvisor

A experiência de Nova York

Desde o último domingo (5), motoristas que desejam dirigir em Manhattan durante horários de pico são cobrados por essa conveniência. A área de pedágio cobre todas as ruas abaixo da Rua 60, incluindo bairros como Midtown, Chelsea e Wall Street, além de pontos turísticos emblemáticos como o Empire State Building. As taxas variam de US$ 9 para veículos pequenos a até US$ 21,60 para caminhões e ônibus maiores. Essa cobrança é realizada de forma automática, por meio do sistema E-ZPass, e busca reduzir o fluxo de cerca de 700 mil veículos que circulam pela região diariamente.

Os argumentos a favor dessa medida incluem a redução do trânsito — que fez a velocidade média dos veículos cair de 14,6 km/h em 2010 para 11,4 km/h em 2024 — e o investimento em transporte público, financiado pela arrecadação do pedágio. Contudo, críticos, incluindo o presidente eleito Donald Trump, afirmam que a iniciativa poderá prejudicar a competitividade econômica da cidade e levar empresas a se mudarem para outros estados.

Nova York não está sozinha nessa empreitada. A primeira cidade a implementar o conceito de pedágio urbano foi Cingapura, em 1975. A iniciativa reduziu o tráfego matinal em 47% e incentivou um aumento de 63% no uso do transporte público. Posteriormente, cidades europeias como Londres e Estocolmo adotaram esquemas similares com sucesso, destacando-se como exemplos de planejamento urbano sustentável.

Por outro lado, São Paulo, no Brasil, ainda enfrenta grande resistência à ideia de pedágio urbano, principalmente devido às falhas no transporte público da cidade. Apesar do aumento de 700% no número de carros nas últimas quatro décadas, a população questiona se seria viável abandonar os carros em favor de alternativas coletivas que ainda não atendem adequadamente à demanda.

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Argumentos a favor e contra

Os defensores do pedágio urbano argumentam que ele reduz congestionamentos, melhora a qualidade do ar e revitaliza áreas centrais, tornando-as mais atraentes para pedestres e negócios. Além disso, a arrecadação pode ser usada para financiar melhorias no transporte público, como novas linhas de metrô e ônibus mais eficientes.

Entretanto, os críticos apontam desafios significativos. O controle do acesso à área pedagiada exige um sistema de monitoramento caro e complexo, que pode gerar déficit. Há também o risco de transferência de congestionamentos para regiões vizinhas, onde motoristas estacionam para evitar pagar o pedágio. Além disso, questões sociais e econômicas são levantadas, com alguns argumentando que o pedágio pode promover a elitização das áreas centrais ou, em contrapartida, sua degradação caso a classe média alta deixe de frequentá-las.

Foto: Agência Pública

A introdução do pedágio urbano também afeta o mercado de estacionamentos. Dentro das áreas pedagiadas, a demanda por vagas tende a cair, reduzindo os preços e, consequentemente, o interesse de proprietários em manter estacionamentos improvisados. Já nas áreas vizinhas, a demanda aumenta, o que pode inflacionar os preços. Para mitigar esse impacto, uma alternativa seria a criação de estacionamentos de transferência, integrados a sistemas de transporte público.

O futuro do pedágio urbano

Embora o pedágio urbano seja uma ferramenta eficaz para combater congestionamentos e promover cidades mais sustentáveis, sua implementação requer cuidado. O planejamento deve equilibrar os interesses econômicos, sociais e ambientais, garantindo que a medida não se torne apenas um tributo adicional para os motoristas. Além disso, o sucesso do pedágio urbano depende de investimentos simultâneos em transporte público de qualidade, oferecendo uma alternativa viável ao uso do carro.

Com experiências variadas ao redor do mundo, Nova York agora se junta ao grupo de cidades que apostam nessa solução. Os próximos anos serão cruciais para avaliar os resultados práticos e a aceitação da população, não apenas na metrópole americana, mas também em outras cidades que observam de perto essa experiência como um possível modelo a ser seguido.

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