“Xogun”, “Disclaimer” e as melhores séries de 2024

Por Reinaldo Glioche

Xogum (5)
Cena de “Xogun” | Foto: Divulgação

O ano não começou bem para as séries de TV com produções aguardadas como “Expats” e “Mr.&Mrs. Smith”, do Prime Video, e “Masters of the Air”, do AppleTV+, provocando grande decepção, mas houve rápida recuperação com produções de alto calibre e qualidade. Já em fevereiro, “Xogun”, uma saga épica e maravilhosamente filmada reclamava para si o posto de série do ano.

Ao fim de 2024, mesmo com outras ótimas estreias, a série do FX – disponível n Brasil no Disney+ – resiste como a grande produção do ano. Vencedora do Emmy e grande favorita ao próximo Globo de Ouro, a série agracia os órfãos de “Game of Thrones” com maquinações políticas, intrigas e um vislumbre sedutor do Japão feudal.

A minissérie baseada na obra de James Clavell foi tão bem-sucedida que o FX resolveu torna-la uma série regular e já garantiu mais duas temporadas. O mesmo movimento aconteceu com duas ótimas produções do AppleTV+. “Presumed Innocent”, ou “Acima de Qualquer Suspeita”, como traduzido no Brasil, coloca Jake Gyllenhaal como um promotor de justiça acusado de assassinar uma colega, que era sua amante. O livro que baseia a série já havia sido adaptado para o cinema com Robert De Niro com protagonista, mas aqui ganha uma construção minuciosa e intensa.

“Dark Matter” (Matéria Escura) surfa na onda dos universos paralelos e agrada com uma narrativa que mistura dramas familiar e existencial com um suspense muito bem irrigado. Joel Edgerton, Jennifer Connelly e Alice Braga estrelam.

Do AppleTV+, a maior grife de séries de qualidade atualmente, ainda vieram as ótimas “Criminal Record”, uma série britânica de investigação encabeçada por Peter Capaldi, “Bad Monkey”, que devolveu a Vince Vaughn seus dias de glória na comédia cínica, e “Shrinking” (Falando a Real), que se se consolidou na 2ª temporada como um oásis de humor que trafega pelos dramas da existência com muita inteligência emocional.

O Paramount+ continuou apostando em Taylor Sheridan como sua principal sustentação e a aposta continua rendendo. “Yellowstone”, depois de todos os imbróglios que culminaram no afastamento do astro Kevin Costner, teve um final digno – e mais dois spinoffs a caminho. “Lioness” voltou para sua segunda temporada com o mesmo rigor e apreço pela simbiose entre espionagem e militarismo ativo dos EUA. O 2º ano teve mais Nicole Kidman em cena e isso fez bem para a série. “Tulsa King”, em seu 2º ano, elevou seu status como guilty pleasure, mas o grande destaque do sheridanverse em 2024 foi mesmo “Landman”, estrelada por Billy Bob Thorthon e com as presenças luxuosas de Demi Moore e Jon Hamm. A produção que observa o dia a dia de um faz-tudo de uma petrolífera no Texas é uma potência nas subtramas e implacável no seu retrato da América profunda.

MAX em baixa

Foi um ano de poucas boas séries para a MAX, cuja única boa série nova – “The Girls in the Bus” – foi cancelada em virtude da baixa audiência. A Warner havia tomado a decisão de tornar produções do streaming em originais da HBO – foi o caso de “Pinguin” e “Dune: Prophecy” – que não necessariamente mereceriam menção entre as melhores do ano. Já “Industry”, em sua terceira temporada, e “House of The Dragon”, no 2º ano, são legítimas integrantes deste rol.

A primeira expandiu os horizontes de sua trama focando na psicologia dos principais personagens enquanto se desenrolava a abertura de capital de uma startup com foco na economia verde. Partem daí as circunstâncias para o esfarelamento do banco Pierpoint. Já o segundo ano de “House of the Dragon” intensifica a batalha pelo trono de ferro e vê Rhaenyra (Emma D´Arcy) fazer escolhas difíceis para se posicionar em vantagem no xadrez bélico que move a trama.

O Amazon Prime Video teve um 2024 discreto. Depois dos missifires do início do ano, emplacou “Fallout”, boa adaptação do game homônimo, mas resplandeceu mesmo com o segundo ano da antologia de horror “Them”. Outro grande acerto foi a série criminal “Cross”, em que Aldis Hodge assume o papel do psicólogo forense que no cinema foi vivido por Morgan Freeman.

Pouco comentadas na mídia, duas séries do Starz, no Brasil disponíveis no MGM+, merecem figurar nesta lista. Ambas foram encerradas em 2024. A primeira delas é “Hightwon”, ótimo drama policial estrelado por Monica Raymund, e a segunda é “The Serpent Queen”, em que Samantha Morton dá um show como Catherine de Medici. Nesta segunda temporada, que infelizmente se resolveu como a última da produção, ainda temos Minnie Driver como um verdadeiro deleite dando vida a Elizabeth I.

Netflix volta ao pico

Nenhum streaming, entretanto, foi melhor em 2024 do que a Netflix. É verdade que a empresa coloca mais séries no mercado e, portanto, tem mais chances de emplacar obras entre as melhores do ano. Mas isso não se verificou nas últimas temporadas. Em 2024, porém, a Netflix foi assertiva em todos os ramos. Na comédia, com a 2ª temporada da espanhola “Machos Alfa”, com a fofa “Nobody Wants This” e com a delicada e engraçadíssima “The Man on the Inside”; no drama viu o retorno do hype de “Round 6” com uma ótima 2ª temporada e apostou na espionagem e em Keira Knightley na convidativa “Black Doves”. Teve ainda Guy Ritchie matando a pau na comédia gangster “The Gentlemen”.

O grande acerto da Netflix no ano, porém, é em sua essência acidental. A minissérie “Baby Reinder” foi pensada apenas como content, mas se mostrou o mais avassalador fenômeno do ano – ensejando debates, maravilhamento e espanto. Tudo a partir de uma história, baseada em fatos, de abuso, solidão e dor. O que nos leva a outro highlight da temporada que se sustenta nesses fundamentos. “Disclaimer”, do AppleTV+, foi dirigida e escrita pelo cineasta mexicano Alfonso Cuarón e estrelada por Cate Blanchett e Kevin Kline. Essas duas minisséries são as mais pungentes e bem escritas de 2024 e expressam irrevogavelmente a força do ano nessa seara.

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