Redação Culturize-se
É hora de reconsiderar a MILF do cinema. Codificada por Anne Bancroft, satirizada por Jennifer Coolidge, australianizada de forma escandalosa por Naomi Watts, ela agora, em 2024, está explodindo no mainstream das comédias românticas, atualmente como uma protagonista comum apenas vivendo sua vida até ser confrontada com o inegável pênis de um homem pelo menos uma década mais jovem que ela. Só neste ano, vimos pelo menos quatro filmes sobre mães (divorciadas, viúvas e casadas) se envolvendo com um jovem sarado, (na maioria das vezes) dentro dos limites da lei e (na maioria das vezes) correndo para o pôr do sol, felizes para sempre: “Uma Ideia de Você”, “Tudo em Família”, “Culpa e Desejo” e “Entre os Templos”. A Netflix também ofertou em 2024 “Amores Solitários”, com Laura Dern e Liam Hemsworth.
Vem aí uma série de thrillers eróticos com protagonistas MILF empoderadas, como “I Want Your Sex”, de Gregg Araki, no qual Olivia Wilde transa com Cooper Hoffman, e “Babygirl”, de Halina Reijn, no qual Nicole Kidman faz o mesmo com Harris Dickinson.
Historicamente, a MILF tem sido o objeto de um filme, raramente o sujeito — ou, quando era o sujeito, muitas vezes se encontrava presa em um drama sério ou punida por seus crimes de desafiar a idade. A saber: os pilares anteriores no cânone MILF incluem “A Primeira Noite de um Homem” (a versão dos anos 70: MILF como geradora de crise existencial), “American Pie” (a versão dos anos 90: MILF como piada), “Reencarnação” (Kidman não é tecnicamente uma MILF aqui, já que ela não tem filhos biológicos, mas este é inegavelmente um filme sobre dinâmicas MILF perturbadas), e “May December” (a versão antropocênica de Todd Haynes). A MILF se tornou brevemente um clichê em filmes dos anos 80 e ocasionalmente filmes como “Alguém Tem Que Ceder” colocavam a MILF como uma mulher empoderada. Mas nenhum desses filmes gerou o gênero hiper específico que temos em mãos neste momento.
Vale destacar, é verdade, “Amor sem Pecado”, o clássico drama-camp de 2013 de Anne Fontaine no qual duas melhores amigas consentem em transar com os filhos gostosos uma da outra. “Amor sem Pecado” foi amplamente ridicularizado em sua época, mas ele se jogou de um penhasco para que esses novos filmes de MILFs pudessem agraciar o mainstream atualmente.
Então, por que a mudança abrupta da MILF para o território da comédia romântica? É realmente apenas sobre — como os departamentos de marketing desses filmes gostariam que você acreditasse — feminismo, especificamente por meio da subversão do antigo trope do relacionamento com diferença de idade apresentando homens mais velhos e mulheres mais jovens? Ou esses filmes estão silenciosamente reforçando as normas que buscam criticar ao agir como se fosse inerentemente irreverente para uma mulher namorar abaixo de sua faixa etária, ou impossível escrever uma personagem feminina de 40 e poucos anos que se considera um ser sexual vibrante sem fazer da questão interna de sua viabilidade um ponto central da trama? Será que é porque não estão nascendo mais estrelas de cinema, então devemos começar a reengenharia de todo o nosso entretenimento para estrelar Anne Hathaway e Nicole Kidman?
Se não podemos identificar exatamente o porquê, o mínimo que podemos fazer é nos concentrar no quê: Como é um filme MILF moderno? Quais são os pontos de contato, os temas, as taxonomias, os tesouros, as armadilhas? Que fantasia específica está sendo vendida? O que há de divertido nisso, e o que parece falso? Por que todas essas mães excitadas são magras, brancas e ricas? Por que quase todas elas suspiram diante de um espelho enquanto usam uma peça de roupa folgada? A realidade sugerida por esses filmes — de que as pessoas ainda se importam com uma mulher mais velha namorando um homem mais jovem — reflete a realidade em que realmente vivemos? São questões que “Babygirl” subverte embora não aprofunde-se no comentário a respeito da psique da mulher moderna e que não mais cerceia sua sexualidade.
É interessante, no entanto, observar como a MILF se apropriou do cinema em 2024 e consolidou-se como uma referência em um gênero tão identificado com o feminino como a comédia romântica. Em 2025, Bridget Jones, mais MILF do que nunca, volta para mais uma aventura e para testar a perenidade desse fenômeno.