1984: o ao que redefiniu o pop mundial

Tom Leão

Algumas colunas atrás, nós lembramos aqui de 1991, o ano que redefiniu o rock moderno, e continua até hoje reverberando. Já que, a maioria dos discos lançados no período 1991-94, foram os mais importantes do rock contemporâneo e de suas bandas.

Mas, recentemente, o The New York Times (num artigo do decano da crítica musical americana, Jon Pareles) lembrou que: ‘quarenta anos atrás, a química do estrelato pop foi irrevogavelmente alterada. 1984 — nas palavras dele –, foi um ponto de inflexão: um ano de álbuns de grande sucesso, saltos quânticos na carreira, poses icônicas e uma redefinição duradoura do que o sucesso pop poderia significar para os artistas – e depois exigiria deles – nas décadas seguintes’.

Prince
Foto: Divulgação

Os álbuns marcantes de 1984, citados por Pareles, foram lançamentos decisivos: ‘Purple Rain’, de Prince (que também é a trilha sonora de filme homônimo, que deu um Oscar a Prince); ‘Like a Virgin’, de Madonna (que marcou e solidificou o visual e estilo da loura ambiciosa); e ‘Born in the U.S.A.’, de Bruce Springsteen (que tirou Bruce do meio, digamos, mais cult, e o jogou até nas pistas de dança!), entre os mais importantes. Além disso, Tina Turner se reapresentou como uma sobrevivente machucada, mas resiliente, em ‘Private Dancer’ (seu disco de maior sucesso, que a levou em turnê mundial, inclusive ao Brasil). E o Van Halen provou que o hard rock poderia se misturar com o pop – até mesmo com o synth-pop – em ‘Jump’ (de ‘1984’, o disco que tirou a banda do nicho e os levou para as FMs). Essas foram declarações (musicais) cruciais de artistas já estabelecidos, mas que estavam multiplicando decisivamente seu impacto internacionalmente.

Esses sucessos de vendas (e bilheteria, também, já que os artistas passaram a se apresentar em grandes espaços) foram impulsionados por uma convergência improvável de impulsos artísticos, tecnologia avançada, aspirações comerciais e gosto popular, todos moldados pelos portais estreitos do cenário da mídia pré-internet. A novidade dos videoclipes (foi a época do dominio máximo da MTV, que chegou aqui só nos 90s), o domínio das grandes gravadoras e os formatos cautelosos das estações de rádio (que eram mais influentes do que são hoje os streamings de musica) ainda criaram um mainstream limitado e reconhecível, em vez da infinidade de escolhas, nichos, microgêneros e mecanismos de recomendação personalizados que a internet abriu. Foi um momento de pico da monocultura da música pop (e que levou, a reboque, desde cópias, como Cindy Lauper, a artistas de vanguarda, como Talking Heads). E, predominantemente a musica pop feita nos Estados Unidos da America, mais do que em outras partes do planeta. Foi o auge da dominação americana no pop, ainda que hoje nomes como Taylor Swift sejam fenomenos com shows lotados, ela não tem nem metade do impacto do que teve Madonna.

Imagem icônica do álbum “Born in the USA” | Foto: Reprodução/Internet

Segundo Pareles, ouvintes de música (de discos ou rádios) nos anos 80, absorveram tudo isso de forma total e absoluta: desde a entrada gloriosa e cheia de fanfarras de ‘Born in the U.S.A.’, de Springsteen; o saxofone recheado por sintetizadores no mega hit do inglês George Michael, em ‘Careless Whisper’; os vocais gritados e a percussão marcada em ‘Shout’, da banda britânica Tears for Fears. Todas essas musicas e artistas, ficaram, definitivamente, marcados por esses momentos em suas carreiras, mesmo que não executadas pelos originais.

 Assim como aquele rock criado pela geração dos anos 90 (que foi a que substituiu esse pop dos anos 80, com Nirvana destronando Michael Jackson), as lições e sons criados e lançados em 1984 (um ano emblemático, o do Big Brother, do livro de George Orwell), duram até hoje e foram reciclados incontáveis vezes desde então, inclusive ecoando no som de hitmakers do século 21 como The Weeknd (‘Blinding Lights’) e Sabrina Carpenter (‘Please Please Please’).

O Big Brother pode até não estar de olho em você. Mas, as músicas de 1984, definitivamente, estão encalacradas em nossos cérebros, através dos ouvidos, como minhocas, se você vivenciou ou não aquele momento único do pop mundial.

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