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1991: O ano que nunca acabou (para o Rock)

Tom Leão

Tem uma frase que diz que foi ‘a conjunção de planetas’ que ajudou, para justificar ou tentar explicar uma onda de coisas boas advindas de uma mesma época ou lugar. O fato é que (quase) nada explica como foi que, no espaço de apenas 44 dias, em 1991, foram lançados alguns álbuns de rock, de bandas americanas, que simplesmente redefiniram o próprio rock.

  A saber: o disco preto (duplo) do Metallica, o primeiro do Pearl Jam (‘Ten’), o segundo do Nirvana (‘Nevermind’) e o terceiro do Soundgarden (‘Badmotorfinger’), além dos dois duplos (!) do Guns & Roses (‘Use your illusion’, volumes I & II). Eu vivi aquele momento, e digo a vocês que foi algo de tirar o fôlego (e o dinheiro do bolso). Mal você acabava de descobrir o Pearl Jam (uma voz diferente, letras interessantes) e já era atropelado pelo segundo do Nirvana (cujo ‘Nevermind’, até a minha mãe, uma beatlemaníaca, caiu de amores imediatamente, e ouvia o vinil nacional sem parar; deixei com ela e fiquei com meu CD gringo), e daí já vinha o Soundgarden na contramão (o qual você já conhecia, mas foi ali que caiu o queixo) e via a banda que você amou desde o primeiro momento, os Red Hot Chili Peppers, se transformar em algo grande, como nunca antes (nesse caso, eu tinha a fita cassete que ficava direto no auto-reverse).

  Como explicar esse momento? Bem, o rock dava o seu último grande grito, embalado no estouro do grunge (que foi o que catapultou, além do Nirvana, Soundgraden e Pearl Jam, dezenas de outros) e, duas bandas que já estavam na estrada, com diferentes graus de popularidade, arrebentaram a boca do balão, como se diz. Embora eu não ache os ‘Use your illusion’ do Guns, o seu melhor, foi ali que a banda atingiu o seu ápice (o que os trouxe aqui, como headliners do segundo Rock in Rio, o do Maracanã); e, os RHCP, finalmente encontraram o seu prumo, após bons discos erráticos em que apontavam para a senda do punk-funk. Mas, com a mudança de gravadora (lançaram seus primeiros trabalhos pela EMI), foi na Warner que, através das mãos do mago Rick Rubin, encontraram o caminho que, para o bem e para o mal, os levou onde estão até hoje: transformados em banda de arena e festivais, e acomodados na própria fama, o que os deixou um tanto preguiçosos. E previsíveis.

O álbum mais importante dos anos 90

 O Nirvana, foi algo completamente inesperado. Não que o maravilhoso disco produzido por Butch Vig não mereça todas as loas que recebeu. Mas, ninguém esperava, nem a banda, nem a gravadora (e nem o Sonic Youth, para o qual estavam abrindo na virada de 1990/91, e, no curso de poucas semanas, viraram os headliners!). Contratados pela Geffen, depois de um visceral disco de estreia pela Sub-Pop, Butch Vig soube lapidar (sem apagar) a fúria da galera de Seattle, realçou as guitarras e a voz rasgada de Kurt Cobain, destacou as melodias e, no fim das contas, criou o álbum de rock mais importante dos anos 90 (naquele ano, convidado pela Folha, SÓ EU votei em ‘Nevermind’, numa lista de discos mais importantes do ano; geral subestimava o Nirvana, porque eles tocavam também em rádios pop). Durante o ano de 1991, Nirvana reinou supremo (tirou Michael Jackson do topo das paradas), influindo não apenas na música, mas também no comportamento – e na moda -, de uma geração.

Fotos: Divulgação

  Já o disco que ficou conhecido como o black álbum, do Metallica, os tirou do submundo do thrash metal, e os levou para uma categoria digna de ganhar prêmios Grammy e tudo o mais. Super bem lapidado por Bob Rock (junto com Lars e Hetfield), ‘Metallica’, o disco preto é quase uma ópera-rock, com canções épicas, longas e inesquecíveis, que resultaram em cinco (!) singles: ‘Enter Sandman’, ‘Sad, but true’, ‘The unforgiven’, ‘Nothing else matters’ e ‘Wherever I may roam’. A mudança já se anunciava no álbum anterior, o magistral ‘…and justice for all’ (vi o show de lançamento deste, em Los Angeles, com o Faith no More abrindo). Até hoje, Metallica não fez nada melhor.

  Se ‘Badmotorfinger’, terceiro álbum de estúdio do Soundgarden (e primeiro distribuído por uma major, A&M), não alcançou os mesmos píncaros da fama de Metallica, Nirvana e RHCP, apresentou uma mistura única de grunge com metal (a la Sabbath) de abalar as estruturas. Até hoje, faixas deste disco, como ‘Jesus Christ pose’. ‘Rusty Cage’ e ‘Outshined’, puxadas pela poderosa voz de Chris Cornell, estão no top da banda.  Enfim, como se diz, também, um raio não cai duas vezes num mesmo lugar. Dificilmente, teremos outro ano para o rock como 1991 (a ‘fase histórica’, durou até 1994, bastante inspirada no que se fez em 1991). Quem viveu, ouviu.

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