Redação Culturize-se
O conceito de longotermismo (ou longtermism) vem ganhando destaque nos debates filosóficos contemporâneos ao propor que as ações humanas devem priorizar o impacto positivo no futuro distante, abrangendo gerações ainda não nascidas. Fundamentado em princípios éticos e utilitaristas, o longotermismo busca ressignificar nossa responsabilidade moral, ampliando-a para além do presente.
Os fundamentos do longotermismo
William MacAskill, um dos principais expoentes da ideia, define o longotermismo como a perspectiva de que é dever da geração atual fazer mais para proteger os interesses das futuras gerações. Em seu livro “O que devemos ao futuro”, lançado recentemente no Brasil pela Editora Planeta, o filósofo argumenta que as sociedades futuras importam tanto quanto as atuais e que nossas escolhas hoje podem moldar a trajetória da civilização.
Inspirado na filosofia de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, o longotermismo expande o conceito de maximização da felicidade para incluir a preservação e o progresso moral de bilhões de indivíduos que poderão existir no futuro. Segundo MacAskill, isso requer ações concretas que vão além de solucionar problemas imediatos, como as mudanças climáticas, para abordar riscos existenciais que poderiam comprometer a continuidade da humanidade, como pandemias, guerras nucleares e inteligência artificial descontrolada.
Toby Ord, outro filósofo associado ao movimento, reforça essa preocupação em “The Precipice”. Ele defende que o futuro da humanidade pode ser vasto, mas extremamente frágil, e que estamos em uma encruzilhada que exige escolhas conscientes e responsáveis.
Implicações práticas e desafios
O longotermismo propõe uma abordagem prática para suas premissas. MacAskill sugere ações que vão desde ampliar o conhecimento sobre questões específicas até iniciativas de larga escala, como a destinação de 1% do PIB de países ricos para causas voltadas às futuras gerações. Essa visão também incentiva investimentos em políticas de resiliência, como garantir a recuperação da civilização em caso de colapso e preparar a humanidade para conviver com inteligências artificiais avançadas.
Entretanto, a proposta enfrenta críticas. Alguns argumentam que priorizar o futuro pode negligenciar necessidades urgentes do presente, perpetuando desigualdades. Outros questionam a viabilidade de prever os impactos a longo prazo de decisões atuais, alertando para os riscos de paternalismo moral. Apesar das objeções, o debate promovido pelo longotermismo convida à reflexão sobre a responsabilidade intergeracional e a necessidade de adotar uma ética mais abrangente.
O livro de MacAskill populariza o conceito ao apresentar uma narrativa acessível e fundamentada, capaz de engajar tanto acadêmicos quanto o público geral. Ao propor uma concepção moral que leve a sério os riscos existenciais e o potencial da humanidade, o longotermismo emerge como um movimento que une filosofia e prática, incentivando mudanças tanto no nível individual quanto geopolítico.
O debate é essencial em um mundo onde o futuro da humanidade pode durar milhões de anos ou ser interrompido abruptamente. O longotermismo, ao colocar as gerações futuras no centro das decisões de hoje, convida-nos a imaginar um caminho de progresso e resiliência que transcenda o presente e projete um legado positivo para o futuro.