A nostalgia pelos filmes de médio orçamento

Reinaldo Glioche

Alfie
Jude Law e Sienna Miller em cena de “Alfie” (2004) | Foto: Divulgação

Que a crise criativa de Hollywood avança a passos largos, não é exatamente uma novidade. O fato novo, talvez, seja o fato de alguns de seus principais expoentes estarem vocalizando a nostalgia por tempos pretéritos. É o caso de Jude Law, o ator britânico de 51 anos já participou de algumas das franquias mais rentáveis da indústria, como Harry Potter, MCU e mais recentemente Star Wars, mas externou em entrevista recente que sente falta do tempo em que o cinema americano investia em produções de médio orçamento.

O ator, indicado ao Oscar duas vezes, cuja série “Star Wars: Skeleton Crew” estreou nesta semana no Disney+, refletiu recentemente sobre seus primeiros anos como ator, quando trabalhava em filmes de orçamento médio, um tipo de produção que ele acredita ser atualmente “uma grande lacuna” na indústria do entretenimento.

“Quero dizer, me sinto muito sortudo por ter começado nesta indústria numa época em que esses filmes estavam sendo feitos”, disse à Associated Press. “E alguns dos primeiros filmes que fiz com pessoas como Anthony (Minghella), olhando para trás agora, é notável que nos deixaram fazer aquilo. Mas também era uma era, um tipo de filme e de narrativa que acho que sentimos falta. Dar o orçamento, o tempo e a paciência corretos para histórias como aquelas é absolutamente o coração do cinema, e acho que isso é uma grande lacuna no momento.”

Minghella dirigiu Law em “O Talentoso Ripley” (1999), “Cold Mountain” (2003) e “Invasão de Domicílio” (2006), com os dois primeiros rendendo indicações ao Oscar para o ator.

Law também admitiu anteriormente que foi “provavelmente pago demais” por seu filme de 2004, “Alfie”, explicando à British GQ que estava em uma “posição muito forte” na época, após sua segunda indicação ao Oscar, mas agora considera o remake “uma má escolha”. Naquele ano, Law estava por cima da carne seca e estrelou nada menos do que seis filmes. Os outros foram o aclamado “Closer”, “Desventuras em Série”, “O Aviador”, “Huckabees: A Vida é uma Comédia” e “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”. Todos filmes que, a grosso modo, seriam muito difíceis de serem produzidos atualmente.

Por que fazer filmes de médio orçamento é mais difícil hoje?

A razão principal é o streaming. Seu surgimento mudou profundamente a escala de negócios em Hollywood, mas também alterou os hábitos de consumo. Essa combinação fez com que Hollywood paulatinamente evitasse cada vez mais o risco.

Outro elemento dessa equação foi o MCU, que mostrou um jeito diferente de conduzir franquias em Hollywood. A fadiga do gênero de super-heróis pode ensejar uma nova mudança nesse cenário.

Outro aspecto é que os filmes de médio orçamento que estão sendo feitos – ou miram o Oscar ou são disponibilizados diretamente nas plataformas de streaming. Os estúdios não parecem mais dispostos a gastar com o marketing de um filme cujo retorno financeiro não seja ridiculamente grande. É uma perspectiva desencorajadora.

Ficou muito mais fácil comprar filmes independentes em mercados como Sundance e Cannes do que produzir um filme de US$ 60, US$ 80 milhões.

A nostalgia de Jude Law é a de todos que viveram um cinema americano mais pródigo, diverso e inconformista.

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