Kate Nash adere OnlyFans para sustentar turnê e ilumina crise na indústria musical

Redação Culturize-se

Kate Nash, cantora britânica conhecida por sua ousadia criativa e ativismo, provocou uma intensa discussão ao lançar sua campanha “Butts for Tour Buses”, onde usa o OnlyFans para financiar suas turnês e chamar atenção para os problemas estruturais da indústria musical. Essa iniciativa provocativa combina protesto e pragmatismo, refletindo uma abordagem inovadora para enfrentar os desafios financeiros enfrentados por artistas, especialmente aqueles que, como Nash, buscam preservar a qualidade de seus shows e a autonomia criativa.

Fotos: Divulgação; Reprodução/Instagram

A decisão de Kate Nash de criar uma conta no OnlyFans não foi impulsionada apenas por razões financeiras, mas também como uma forma de protesto. Em entrevistas, a cantora explicou que a indústria musical está em colapso, com custos de produção de shows ao vivo aumentando mais de 30% nos últimos dois anos, enquanto os valores pagos aos artistas permanecem estagnados. Além disso, o streaming desvalorizou ainda mais o trabalho dos músicos: Nash ironizou o fato de receber frações de centavos por cada transmissão de suas músicas.

A crise não se restringe a artistas individuais. A infraestrutura musical também está sofrendo. Apenas no Reino Unido, 125 casas de show fecharam em 2023, segundo dados do Music Venue Trust. Este cenário desfavorável pressiona os músicos a buscarem formas alternativas de sustentar suas carreiras. Nash, por exemplo, destacou que a venda de fotos em uma plataforma como o OnlyFans possibilitou a contratação de mais membros para sua equipe durante turnês. Em sua visão, artistas podem aprender com setores como o de profissionais do sexo, que têm maior controle sobre seu trabalho e receitas.

Uma abordagem punk

Nash enxerga sua decisão como um gesto de empoderamento feminino e autonomia artística, uma extensão de sua filosofia punk. Para ela, o ato de vender fotos de seu corpo – em uma abordagem cômica e sem conteúdo explícito – é uma forma de assumir o controle sobre sua própria imagem e desafiar normas sociais. “Acho que o traseiro é a combinação perfeita de comédia e sexualidade”, disse, reafirmando sua crença de que a arte deve provocar e questionar.

Além disso, ela critica a falta de diversidade na música, ressaltando como a atual estrutura da indústria desencoraja artistas de classe trabalhadora. Para Nash, a sobrevivência na música tornou-se quase inviável sem acesso a recursos ou alternativas criativas, como o OnlyFans. Seu protesto é, portanto, duplamente dirigido: contra as desigualdades estruturais e contra a desvalorização cultural do trabalho artístico.

Controvérsia

A campanha de Kate Nash não escapou de críticas. O Lottery Winners, uma banda britânica, acusou a cantora de se apropriar do discurso de artistas da classe trabalhadora, lembrando que ela estudou na BRIT School, uma instituição pública de artes performáticas no Reino Unido. Essa escola, que formou artistas renomados como Adele e Amy Winehouse, é frequentemente vista como um símbolo de privilégios dentro da indústria.

Nash rebateu, destacando que a BRIT School é gratuita e acessível a jovens de diferentes origens socioeconômicas. Ela argumentou que a educação artística universal é essencial para democratizar o acesso à cultura e defendeu que a escola desempenha um papel importante nesse processo. Em resposta ao tom agressivo das críticas, Nash usou suas redes sociais para destacar o propósito maior de sua campanha: “Estou tentando destruir o inferno aqui! Dá para vocês se fazerem úteis?”

Após admitir erros factuais, o Lottery Winners pediu desculpas publicamente, reconhecendo a validade das preocupações de Nash sobre as barreiras enfrentadas por artistas de origens mais humildes. A banda aproveitou a oportunidade para chamar atenção para dados preocupantes: apenas 16% dos profissionais da música vêm de comunidades de classe trabalhadora, enquanto 65% pertencem a classes média ou alta.

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Entre arte e mercado

Lily Allen

A trajetória de Kate Nash exemplifica as tensões entre criatividade e mercado. Desde o início de sua carreira, ela alternou entre papéis de artista independente e ativista. Sua campanha “Butts for Tour Buses” chamou atenção não apenas para o estado da indústria musical, mas também para questões mais amplas, como autonomia feminina e a desvalorização da arte.

Sua atitude provocativa não é isolada. Outros artistas também têm recorrido a estratégias incomuns para sustentar suas carreiras. Lily Allen, por exemplo, revelou que vende fotos de seus pés no OnlyFans, enquanto outros músicos cancelaram turnês devido aos custos exorbitantes. Esses exemplos ilustram como o cenário atual obriga os artistas a reinventarem suas práticas e meios de subsistência.

A abordagem de Kate Nash é uma tentativa de redescobrir o valor da música e da performance em um mercado dominado por lucros corporativos. Sua decisão de recorrer ao OnlyFans para financiar turnês não é apenas um meio de sobrevivência; é uma forma de resistência e inovação. Além disso, ao abraçar essa estratégia, Nash reforça sua crença de que a arte deve ser acessível, inclusiva e autossustentável.

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